22 março 2021

O QUE FAZER COM UM OFICIAL CUBANO CAPTURADO EM COMBATE NA GUINÉ?

22 de Março de 1971. Pedro Rodriguez Peralta era um oficial cubano que fora capturado em Novembro de 1969 numa operação na Guiné. Tornara-se um activo de propaganda do regime português e um embaraço para o regime cubano. Estranhamente, considerada a natureza totalitária mas antagónica dos dois regimes, até havia relações diplomáticas entre Lisboa e Havana, mas o lado português nunca fez tenção de "esticar a corda" a pretexto desta descarada interferência "internacionalista" dos cubanos em assuntos que Lisboa considerava exclusivamente seus. A pessoa do capitão Peralta, que fora capturada seriamente ferido e que fora depois disso tratado e recuperado, representaria, depois de esgotada a sua utilidade propagandística, um fardo. Que fazer com ele? Fora acusado na Guiné da «prática de de crimes contra a segurança do Estado». Mas esse género de acusações, típicas de todos os "subversivos", deveria cair sob a alçada da investigação da PIDE e do julgamento de um Tribunal Criminal. Fora nesse sentido que se pronunciara o Tribunal Militar de Lisboa, que se julgara incompetente para o julgar, já que o réu era militar, mas militar cubano. Agora o processo do capitão Peralta andava de Herodes para Pilatos, um jogo onde se percebiam dois silêncios ribombantes: o do poder político português, que, por detrás das cortinas, não dava directivas ao poder judicial quanto ao que fazer, e o poder em Cuba, que nada fazia para proteger o seu cidadão que fora capturado em circunstâncias manhosas, mas em que cumpria ordens do seu governo. Pedro Peralta só veio a ser libertado em Setembro de 1974, por ocasião do acordo de troca de prisioneiros entre o governo português e o da nova Guiné-Bissau independente. Só a partir daí é que o governo cubano passou a andar com o antigo prisioneiro ao colo, para se redimir dos cinco anos em que fingira que não o conhecia de lado algum.

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