Estes dois vídeos representam o mesmo momento televisivo na CNN, o de cima é uma versão posteriormente encurtada de uma entrevista gerada por uma historieta que se conta em algumas frases. Nos Estados Unidos, há uma representante republicana do estado da Georgia, que, acabada de eleger, já se celebrizou pelo radicalismo conservador do que diz. E também pelas gaffes. É uma favorita, um alvo e um bombo de festa para órgãos de comunicação como a CNN. Chama-se Marjorie Taylor Greene. Como se conta na primeira parte de qualquer dos vídeos, recentemente, numa conferência republicana, Marjorie fez mais uma das suas ao enumerar países estrangeiros e ao incluir neles Guam. Ora Guam é um território americano - não é estrangeiro. O colega no Congresso que é eleito por Guam - Guam elege um delegado ao Congresso embora sem direito a voto - e que pertence ao partido democrático, aproveitou a ignorância da colega para encenar um número para promover a sua ilha: aproveitando a presença em Washington de uma delegação de militares oriundos de Guam, foi com eles ao gabinete de Marjorie Taylor Greene oferecer-lhe uns doces regionais. Claro que as televisões estavam lá e claro que a destinatária dos doces não estava... A pivot da CNN (Brianna Keilar) que noticia, com o delegado por Guam como convidado em directo, tinha ainda um assunto final para abordar: repreender o delegado pelo emprego de militares uniformizados em acções políticas. Este armou-se em sonso, e pretendeu que o gesto não passara de uma de várias cortesias para tornar Guam lembrado e que ele não fora mais do que um anfitrião que estivera a mostrar Washington aos seus conterrâneos da Guarda Nacional que tinham estado de visita à capital. E é com essa mentira descarada mas polida que termina no vídeo acima a versão encurtada da conversa entre a jornalista da CNN e o delegado guamês Michael San Nicolas. Só que, como se vê abaixo, Brianna Keilar continuou a insistir na reprimenda até que, depois de 1 minuto e meio (3:45 - 5:15) a tentar mandar as bolas para fora sem lhe dar troco, Michael San Nicolas vai mesmo a jogo. E começa por evocar que ainda muito recentemente se comemorou o 500º aniversário do colonialismo em Guam (Fernão de Magalhães descobriu a ilha em 6 de Março de 1521). E que continuam a ser uma colónia, com direitos políticos reduzidos em relação aos restantes cidadãos americanos: a) Não têm direito de voto no Congresso. b) Apesar de servirem nas forças armadas, os guameses não têm o direito de poderem escolher o seu comandante em chefe, porque não têm direito de voto nas eleições presidenciais americanas. Esses é que eram para ele os assuntos importantes! Não os doces distribuídos no Capitólio. A conversa levou uma reviravolta de 180º, Keilar teve de passar para a defensiva, numa fase em que o interlocutor expusera a predisposição da CNN para se preocupar apenas com os aspectos superficiais e selectivos da presença dos militares guameses em Washington, tanto mais que, frisou San Nicolas diante de uma Keilar cada vez mais incomodada, havia muitas outras imagens televisivas dele acompanhando os seus conterrâneos uniformizados, passeando-se pelos pontos mais variados de Washington - mas teve a elegância de não explicitar que, se a CNN escolhera apenas as imagens da visita ao gabinete de Marjorie Taylor Greene, a CNN que explicasse aos seus espectadores o porquê da escolha... Enfim, correu mal para a CNN, iam buscar lã e saíram tosquiados e percebe-se porque a CNN prefere promover a versão encurtada em que o delegado de Guam não lhes dá o troco que mereceram.
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