Há precisamente trinta anos (3 de Março de 1991), um vídeo, que foi captado pela câmara de uma testemunha mostrando uma complicada detenção de um condutor norte-americano, veio posteriormente a dar a volta ao Mundo (das imagens televisivas). A cena é impressionante (abaixo, apenas um trecho do tratamento, acima o resultado do tratamento). São cerca de dois minutos em que o condutor (chamado Rodney King) levou um descomunal enxerto de porrada de três polícias - 33 bastonadas e ainda 6 pontapés - sem que quem esteja a observar a cena consiga se aperceber de uma causa que justifique a proporcionalidade daquele tratamento. A cena chocou os Estados Unidos e o resto do Mundo, que, falho de experiência directa, se apercebia pela primeira vez que os Estados Unidos possuíam uma polícia que se comportava para com o cidadão comum como uma polícia colonial (imagem mais forte entre africanos e asiáticos) ou então como soldados de um exército de ocupação (imagem mais forte entre os europeus). Por uma vez, parecia que a opinião pública estaria formada, dispensando a intermediação da opinião publicada. Mas não foi o fim da história. Dali por catorze meses, o veredicto de absolvição dos quatro polícias envolvidos na cena iria ser o estopim de uma vaga de protestos, saques e distúrbios em Los Angeles que se arrastaram por seis dias e que causaram mais de 50 mortos. Aquela tão citada passagem do famoso discurso de Lincoln em Gettysburg (governo do povo, pelo povo e para o povo) teve alguns dos seus dias mais sombrios... E se eu estivesse convencido da evolução da América numa certa direcção, nada teria a dizer de cauteloso quanto à possibilidade de que tudo isto se repita quando do julgamento dos agentes policiais responsáveis por um homicídio de um detido chamado George Floyd, também ele filmado e extremamente publicitado. O julgamento começa para a semana... e as autoridades já erigiram barricadas.
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