Depois do aqui escrevi no dia 14 deste mês, a ofensiva da Comissão Europeia contra a farmacêutica AstraZeneca parece ter entrado numa terceira fase. Agora trata-se de denunciar o paradeiro do que a farmacêutica faz aos seus stocks. Para o Correio da Manhã (acima) não restam dúvidas: esconde-os, nomeadamente 29 milhões de doses descobertas armazenadas em Itália. Recorde-se que numa primeira fase, em Janeiro, quando se começaram a registar os primeiros atrasos nas entregas, e começaram a surgir as acusações recíprocas, de Bruxelas veio a iniciativa de tornar público o contrato de fornecimento. Depois percebeu-se que o gesto era apenas para impressionar - as passagens principais do contrato estavam sanitizadas, ou seja, obscurecidas, para que não se soubessem os detalhes do negócio. Em contrapartida, e por outros canais (provavelmente a própria farmacêutica), veio-se a saber que a Comissão conseguira um preço canhão por vacina, cerca de metade do preço acordado com os Estados Unidos; o problema eram as sanções por incumprimento: a farmacêutica conseguira que o contrato apenas lhes exigisse os seus «melhores esforços» para os corrigir, enquanto americanos e britânicos incluíram sanções severas. Bruxelas perdeu esse primeiro round e o programa de vacinação começou-se a atrasar.
Seguiram-se uma segunda fase levantando dúvidas sobre a fiabilidade da vacina nomeadamente uma questão de coágulos que a vacina causava. Sucediam-se as notícias, sempre épicas na gravidade, mas raramente enquadradas: esqueciam-se de esclarecer que os riscos eram ínfimos (na ordem de 1 caso para mais 300.000 vacinações) e, que, para além disso e nessa exiguidade, a taxa de ocorrências com a vacina da AstraZeneca não se distinguia da da Pfizer. Em suma, a percepção das opiniões públicas dos países europeus em relação à vacina da AstraZeneca evoluiu da forma negativa que o gráfico acima mostra. Bruxelas estragou a reputação comercial do produto mas foi vítima do seu próprio «sucesso». Como os governos nacionais dos países europeus andam a reboque da percepção das suas opiniões públicas, estes começaram a suspender a vacinação com receio que a vacina viesse a ser maciçamente rejeitada - e o programa de vacinação, já atrasado, atrasou-se ainda mais. Depois da pausa, quase todos os países recomeçaram a vacinação.
Depois deste segundo fiasco, chegamos então a esta terceira fase em que se bisbilhota o que a AstraZeneca anda a fazer às vacinas. (Aproveito para confessar que, lá por os nossos governantes em Bruxelas se estarem a revelar uns incompetentes em tudo isto, não nutro qualquer simpatia pelos espertalhões da AstraZeneca) Para o Correio da Manhã mais acima não há dúvidas: a AstraZeneca está a esconder 29 milhões de vacinas! Talvez seja isso, mas, já que Bruxelas pede explicações, e porque estou cansado destas tentativas para me formatarem a opinião, eu estou interessado na explicação que a companhia possa dar para que elas lá estejam, o que eles pretendiam fazer com elas, mas também gostaria de ouvir uma explicação abrangente de como funciona a logística e a distribuição daquela empresa (porque sei que há vacinas que têm de ser preservadas a temperaturas extremamente baixas, casos da Pfizer -70º e da Moderna -20º), para avaliar se a explicação que me derem é plausível...
Exactamente!
ResponderEliminarCaro A.Teixeira,
ResponderEliminarSobre esta palhacada (com cedilha) da "rusga Europeia" em Italia, li primeiro na BBC uma explicacao com uma candura desarmante, (entretanto, curiosamente a noticia deixou de ser facilmente visivel numa busca do google) da real magnitude da cagada que fizeram na Italia.
Tenho no entanto um link para o Guardian.
Resumindo: e um embaracao e incompetencia dificeis de imaginar. Nem a fabrica estava a esconder nada, nem as vacinas eram destinadas ao Reino Unido cereja no topo do bolo, a maioria das doses eram destinadas…. ao Mercado da Europa Continental... :-D
https://www.theguardian.com/world/2021/mar/24/astrazeneca-dismisses-claim-29m-vaccine-doses-in-italy-were-bound-for-uk
Como diria aquele famoso presidente americano: FEIQUE NUUUUS!
Quanto a logistica. Nao sou nenhum especialista mas parece-me meridianamente obvio que nesta fase os problemas de distribuicao de vacinas se prendem exclusivamente com problemas de producao fisica de doses de vacina.
ResponderEliminarA realidade pura e dura e esta: num esforco pandemico destes despejou-se dinheiro (subsidiou-se) no criacao e desenvolvimento privado (e respectivo patentiamento ou apropriacao privada) de um bem que a bem da verdade e publico e assim deveria sempre ser. As logicas imperialistas tem destas coisas...
Agora, "surpreendentemente", parece que esta cagada a que insistem de chamar Sistema economico nao provisiona de quem pode a quem precisa (onde e que eu ja li esta…?)….
Assim sendo, a realidade no terreno e esta: quem tem capacidade de producao instalada no seu territorio consegue exercer pressao politica directa para obter acesso a vacina - um golpe de rins dos "livres mercados" para beneficiar quem interessa.
Quem nao tem capacidade de producao esta na periferia do Imperio. Alguns tem auto-consciencia da sua real posicao geo-politica e "como nao tem cao, caca com gato", isto e, tem "bons amigos" e/ou pagam agiotas para obter acesso (como os Israelitas, os Sauditas e diversos Emirados satellite do Medio Oriente).
Outros, como a Uniao Europeia, tomam comprimidos para induzir alucinacoes colectivas e amuam.
Pela parte que me toca, espero que prendam bem esse burrinho.