A discussão sobre a Catalunha tem-se centrado - mal - nas opiniões sobre o futuro estatuto da região. Como aconteceu há três anos com a Escócia, isso será uma opinião e uma decisão que competirão a quem lá viva e a quem mantenha ligações com a região. O nosso palpite a respeito do que deva ser o futuro da Catalunha, por muito que gostemos de dar opiniões, é supérfluo e só serve para iludir o verdadeiro problema da situação actual, que é outro. O argumento fundamental em Madrid para se opor à realização do referendo é que ele é ilegal. E, enquanto se assistem às peripécias para impedir a sua realização e se radicalizam posições, anda tudo distraído sem se lembrar de levantar a questão razoável: o que é que se pode fazer para organizar um referendo legal? O problema é que suspeito que, para Madrid, não há referendos legais desde que a pergunta contemple a hipótese da Catalunha se torne independente. Ou seja, Democracia sim, mas isso é que não. Não fosse essa contradição oculta e força é constatar que o governo de Madrid já poderia ter facilmente desarmado a iniciativa de Barcelona, apresentando uma contraproposta de uma consulta popular em moldes mais conformes e moderados. Não tendo acontecido nada disso, perante este crescendo de força, não tenho dúvidas para onde pendem as minhas simpatias neste conflito, embora, repito, não tenha qualquer opinião sobre o que deva ser o destino futuro da Catalunha. Para decidir isso, que o façam os catalães. Mas, tendo os acontecimentos escalado até aqui, tem que haver referendo. É um exemplo que vem de outras países democráticos. Houve-o na Escócia, houve-o no Québec. É uma questão de princípio, é aquela coisa chamada Democracia, mas aplicada na prática. O que Madrid tem que deixar é que a vontade popular se exprima. O resto é só conversa.
Bem dito. Assim o foi na Crimeia.
ResponderEliminar...e também no Sarre, em 1935, quando foi da reunificação com a Alemanha. Quando se trata de princípios, não se pode ser esquisito nos exemplos.
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