Domingo, 3 de Setembro de 2017, noticiário das 13H00 de uma rádio não propriamente vocacionada para o desenvolvimento da informação. Ainda a propósito da notícia da madrugada, o ensaio nuclear realizado pela Coreia do Norte, o jornalista entrevista o físico Carlos Fiolhais sobre o assunto. O entrevistado vai derramando água sobre o que tem vindo a ser noticiado, arrefecendo as reclamações norte-coreanas de que o engenho testado fosse uma arma termonuclear. Para o efeito, explicou, ainda que sucintamente, em que é que consiste uma arma desse tipo (comumente designada por Bomba H), o que a diferencia de uma arma nuclear convencional de fissão (designada por sua vez por Bomba Atómica, ou Bomba A), e uma síntese da história da investigação científica que conduziu desta última à primeira, de muito maior potência e capacidade destrutiva. Melhor ainda: evocando as complexidades do processo que levou da detonação da primeira Bomba A (1945) à primeira Bomba H (1952), Carlos Fiolhais ousa exprimir as suas dúvidas sobre a veracidade da reivindicação norte-coreana. É o tipo de comentário técnico que ainda não se ouvira muito difundido, contém algum risco porque é uma dedução (ainda que com algum fundamento) do próprio Carlos Fiolhais, mas é emitido por alguém a quem se reconhece competência na matéria.
Seria de esperar que o furo jornalístico se propagasse num ramo de actividade em que a vigilância do concorrente é notória. Mas não. A opinião ficou-se por ali, guardadinha para os ouvintes da M80. E mais uma vez se confirma que a informação é uma coisa distinta daquilo que nos é servido como tal pela comunicação social. Fosse a notícia alarmista e seria garantido que ao fim da tarde constaria do noticiário de tudo quanto é órgão, chancelada pelo facto de ter sido emitida pelo conhecido cientista Carlos Fiolhais. Como, pelo contrário, o seu conteúdo, era, ainda assim, de cariz apaziguador, morreu ali. Mas vale sempre a pena ficar o registo elogioso dos dois - só não sei o nome do jornalista da M80 e é pena, porque o merece.
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