19 de Setembro de 1975. Há precisamente 42 anos tinha lugar a cerimónia da tomada de posse do VI Governo Provisório. O 25 de Abril de 1974 ocorrera 17 meses antes e haviam-se sucedido cinco governos provisórios, com uma média de duração que era inferior a três meses e meio, o que reforça o cunho de provisoriedade aos governos que já de si eram crismados de provisórios. Este que naquela data tomava posse (não se sabia na altura) e apesar das vicissitudes (que incluirão a substituição do primeiro-ministro Pinheiro de Azevedo por doença), irá durar uns perenes dez meses, até Julho de 1976. O momento da foto é simbólico da informalidade dos costumes da época revolucionária que se atravessava, mas também da personalidade do primeiro-ministro, que ali se virava para trás trocando impressões com alguém à sua retaguarda, despreocupadamente desatento quanto ao conteúdo do discurso que o presidente da República estava a proferir. A relação entre os dois homens nunca será sã e terá um episódio notável nos anais da ciência política quando da entrada em greve do governo à espera de que o presidente da República concedesse ao executivo as condições políticas que este considerava mínimas para poder governar. Há até uma célebre entrevista colectiva em que o primeiro-ministro manifestava o seu aborrecimento pela frequência com que era sequestrado, uma prática revolucionária que o chateava.
Porque a disputa do poder tanto se fazia nos gabinetes nos palácios governamentais quanto em manifestações de rua. Tanto assim, que a edição desse dia do jornal O Século (um jornal que, como quase toda a comunicação social do Estado, se engajara no espírito do Processo Revolucionário em Curso) divide a sua primeira página entre a notícia da posse do governo e a da manifestação que o contesta: «Muitas dezenas de milhares de operários, camponeses, soldados e marinheiros , oficiais progressistas, intelectuais revolucionários, membros de assembleias populares, de comissões de moradores, de conselhos de aldeia percorreram, ontem, a coluna vertebral da cidade de Lisboa, afirmando "Não ao Governo de direita", "Não à social-democracia", "Apoio às Assembleias Populares", e exigindo entre outras coisas "que os reaccionários abandonassem os quartéis", que a Reforma Agrária prosseguisse, pois que contava com o apoio da classe operária e dos trabalhadores portugueses.» Haviam sido aprovadas «já junto do Parque Eduardo VII, por aclamação da multidão», moções de apoio aos rurais alentejanos e ao MPLA, «único movimento representativo do povo angolano» bem como «à justa luta dos povos do Chile, da Espanha e do Brasil». Estes últimos, imagina-se, eram compromissos muito mais animados que o modorrento e repetitivo "Eu, abaixo assinado, afirmo solenemente pela minha honra que cumprirei com lealdade as funções que me são confiadas" dos ministros empossados. Era assim o PREC, demente, mas muito animado, e com a participação entusiástica em segundo plano de muitos que hoje tomaríamos por insuspeitos.
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