10 setembro 2017

O MARATONISTA NEGRO... E DESCALÇO


10 de Setembro de 1960. Há precisamente 57 anos e por ocasião dos Jogos Olímpicos que se estavam a disputar em Roma, o atleta etíope Abebe Bikila venceu a corrida da maratona (42.195 metros) em 2 horas, 15 minutos e 16 segundos, melhorando a melhor marca mundial daquela distância por um segundo! Mais insólito ainda, o novo campeão olímpico e recordista mundial da maratona cumprira a prova correndo os 42 quilómetros descalço! Escreveu-se então (e ainda hoje se repete com alguma frequência esse erro) de que se tratara do primeiro atleta da África Subsariana a sagrar-se campeão olímpico. Na verdade e a rigor, logo em 1908 um atleta sul-africano (branco) sagrara-se campeão olímpico dos 100 metros - e a África do Sul fica bastante ao sul do Sahara. O comentário e a classificação de subsariana era para ser subentendido naquelas circunstâncias como sinónimo eufemístico de negro... Todavia, apesar do muito que se escreveu a respeito de Bikila (ele voltou a ser campeão olímpico na edição seguinte dos Jogos, em Tóquio), há um outro aspecto na vitória de um etíope nas ruas de Roma que não me recordo de ver muito realçado: é que em Setembro de 1960 ainda não se haviam completado 25 anos que a Itália fascista de Mussolini invadira a Etiópia e a ocupara como possessão colonial. Mesmo depois de um quarto de século, a vitória de um etíope não podia deixar de ter um certo cariz de desforra quanto obtida naquela que fora a capital (frustrada) do Império italiano.

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