15 setembro 2017

A EUROPA DE JUNCKER

Contar-se-ia com a reacção superficial mas desagradada da comunicação social portuguesa (...e das redes sociais) à gaffe do discurso de anteontem de Jean-Claude Juncker no Parlamento Europeu (acima). O que foi verdadeiramente surpreendente foi a contra-reacção daqueles que se apressaram a sair em defesa do presidente da comissão europeia. Surpreendente e eloquente pelos processos que se empregaram para minimizar o que, não tendo qualquer gravidade, era, apesar disso, indesculpável. E que esvaziou, dentro de portas, o impacto de um discurso em que Bruxelas havia depositado tantas esperanças. Houve quem, conhecedor da História, procurasse produzir algumas larachas diminuindo o incidente, evocando precedentes de outras descrições a pincel grosso da geografia europeia, como a famosa Europa do Atlântico aos Urais de de Gaulle ou então a Cortina de Ferro que a dividia desde Stettin no Báltico até Trieste no Adriático de Churchill. Não sei se esta Europa de Vigo a Varna, de Espanha à Bulgária de Juncker se irá perpetuar na memória colectiva como aconteceu com as outras duas famosas descrições. Mas, se isso acontecer, será triste - como até os próprios amigos domésticos de Juncker, aqueles que agora o defendem com denodo, decerto o reconhecerão. Se alguma coisa tivemos que aprender com o que nos aconteceu desde 2011 é a nossa irrelevância à escala europeia. E a passagem de Durão Barroso pelo cargo que é agora de Juncker também nos educou na inutilidade do que valem as simpatias de quem ocupa os mais altos cargos da União. Convém é que não sejam muito ostensivos na forma como essa nossa menoridade é evidenciada verbalmente. É que não nos podemos esquecer que não se tratou ali de um lapso ocasional: estes textos (o de Juncker, como o de de Gaulle ou de Churchill) são para parecer espontâneos mas foram todos pensados e preparados de antemão e sopesados no impacto das palavras que contêm.

Nota: entre os protagonistas da contra-reacção, houve quem tivesse previsto «É um fait-divers. Vai ser aproveitado nas redes sociais e daqui a 24 horas já ninguém se vai lembrar...» Só para o chatear, esperei 48 horas para publicar isto. Sobre o conteúdo carregadamente federalista do discurso, houve quem também tivesse esperado 48 horas para dar a sua opinião: Um discurso desastrado. Quanto ao acolhimento oficial dado pelo governo português, pelo que é possível ler na entrevista já dada pelo ministro dos negócios estrangeiros, pode classificar-se de uma reacção muito circunspecta.

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