28 setembro 2017

OS OVOS DE UM CUCO REVOLUCIONÁRIO

Ainda a pretexto da minha evocação de ontem dos assaltos ao consulado e embaixada de Espanha em Lisboa de 1975, mas agora potenciada pela inesquecível pergunta de Artista (Baptista) Bastos («Onde é que tu estavas no 25 de Abril?»), pergunte-se agora por onde param os participantes em toda aquela jornada revolucionária. As acções mais espectaculares do 25 de Abril terão sido acompanhadas no centro de Lisboa por uma multidão estimada em várias dezenas de milhares (talvez 50.000 a - muito generosamente... - 100.000 pessoas). Dessas, restarão sobrevivas actualmente umas 300.000 pessoas que dizem recordar-se perfeitamente de um ou outro pormenor dos acontecimentos, incluindo até especialistas em transmissões militares como o incomparável Vasco Pulido Valente. Esse milagre de Abril contrasta com a dificuldade para encontrar, ainda hoje, quem, entre as centenas ou milhares a eles associados, admita ter participado em acções revolucionárias mais vanguardistas como foram estes famosos assaltos às duas instalações diplomáticas espanholas. Provavelmente, até os bibelots saqueados na ocasião há muito desapareceram da mesinha da sala de estar para dentro de uma gaveta que ninguém costuma abrir...
Os assaltos, as pilhagens e as fogueiras daquele dia, assim como quase todos os (inúmeros) excessos do PREC tornaram-se daqueles dias para cá numa espécie de ovos de um cuco revolucionário: na época apareceram nos ninhos, e disso não restam dúvidas, mas agora ninguém confessa que lá os pôs. Uma única excepção neste caso concreto de 27 de Setembro de 1975: Artur Albarran que nessa época era um jovem e ambicioso repórter radiofónico da Rádio Renascença revolucionária, ocupada ao serviço dos trabalhadores. A ele se deve a frase dessa noite, aos microfones durante a sua reportagem: «A embaixada está a arder... e bem!» Anos mais tarde, podíamo-lo ouvir a justificar-se de uma forma ridícula, querendo conferir à frase (que não podia desmentir porque ficara gravada) um sentido neutro que nunca fora o da sua intenção quando a proferira. No limiar do justificável e numa perspectiva a que não escapa o ridículo, o mínimo que ele poderia admitir era uma contribuição (que se pode classificar de) testicular. É mais ou menos como se pode descrever o desempenho do respectivo órgão (os testículos) durante o coito: Albarran admitia que participara, mas não chegara a entrar...

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