25 setembro 2017

ALICE WEIDEL, JÖRG HAIDER, PIM FORTUYN. NÃO HÁ HOMOSSEXUAIS DE EXTREMA DIREITA

Este é um daqueles postes escritos com algum contragosto, com empenho em defesa da Verdade mas sem particular simpatia por aqueles de que sai em defesa. Mas a aversão por todos os agentes que se vêem por aí a manipular impõe-se a quaisquer outras prioridades. Afinal, é isso que deve distinguir os independentes dos militantes, que estes últimos têm que tomar sempre em conta as conveniências das organizações a que pertencem. Para o que interessa, a notícia de ontem foram as eleições alemãs e a entrada de rompante da AfD para o Bundestag. Nas sequência houve, como seria curiosidade natural, um escrutínio e um falatório acerca dos dirigentes daquela nova formação parlamentar alemã de extrema direita. Tive oportunidade de assistir a uma passagem na televisão da DW (Deutsche Welle) onde apresentaram uma meia dúzia deles, todos horrorosos, desde um antigo informador da Stasi até aos restantes que disseram coisas inacreditáveis de racistas. Enfim, transmitia-se a impressão que a objectividade não seria o forte da DW. E contudo, no meio desse retrato terrífico de quem encabeça a extrema direita alemã, escapou ao retrato da liderança, que é bicéfala (acima, Alexander Gauland à esquerda e Alice Weidel ao centro), os detalhes interessantes que envolverão a parte feminina dessa liderança, Alice Weidel, 38 anos, economista, lésbica e cuja parceira é de nacionalidade suíça mas de ascendência cingalesa - escurinha portanto - sendo estes dois últimos detalhes pouco consentâneos com a imagem canónica que a comunicação social quer que se faça de uma organização de extrema direita europeia. Desde os exemplos do holandês Pim Fortuyn (1948-2002) ao do austríaco Jörg Haider (1950-2008) parece haver uma tradição arreigada de que não se pode nem se deve dar relevo ao facto das organizações de extrema direita na Europa poderem ser dirigidas por homossexuais. E a curiosidade, que pode despertar os maiores encómios dos membros da comunidade caso se trate de outras formações políticas (1) ou (2), é tratada nesse caso com a maior discrição, como se os próprios factos pudessem fundir os fusíveis de uma narrativa que se quer coerente. Como é que a dirigente de uma organização que se assume xenófoba pode conviver em casa com alguém oriundo da Ásia meridional? E como é que essa mesma pessoa pode não querer para si o direito de se casar? Estas coisas de género podem ser subtis demais, mesmo - ou sobretudo - para os próprios homossexuais...

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