28 maio 2008

OS CANDIDATOS

Já há cerca de dois anos tinha aqui falado do filme The Candidate e do cinismo nele incluído: numa campanha eleitoral ou se fala verdade ou se vence. Na do filme, que estava perdida de antemão, a campanha era uma oportunidade para se falar verdade, até que surgiram as primeiras perspectivas de que se podia vencer… O filme é antigo (1972), norte-americano e pouco referenciado pelo desconforto que transmite da forma como funcionam os sistemas eleitorais, mesmo em democracia. Continua actual.
A aproximar-se do fim, a campanha eleitoral para a presidência do PSD enquadra-se pelos princípios orientadores que então angustiavam Robert Redford: ou se diz o que se pensa ou se diz o que nos dizem que a maioria do eleitorado espera que nós digamos. Só que o PSD é um partido rico: em tradições, quadros, protagonistas, comportamentos. Há nele quem diga honestamente o que pensa, e consiga pensar (e dizer) duas ou três coisas antagónicas sobre o mesmo assunto na mesma quinzena, como Pedro Santana Lopes...

Nos antípodas dessa atitude, o seu rival Pedro Passos Coelho pareceu não acrescentar nada ao que estava estipulado de antemão que dissesse. Pelo conjunto, Passos Coelho é das figuras da política portuguesa que mais se parece com aquele figurino handsome* de candidatos ao Senado norte-americano, com que a própria figura handsome de Redford no filme ironizava. Mas a ascensão de um desses senadores à Vice-Presidência (Dan Quayle) mostrou quanto aquelas carapaças podem esconder um interior oco
Quanto a Manuela Ferreira Leite, parece evitar o dilema do que há-de dizer, evitando dizer. Andam é outros a fazer campanha por si, divulgando, não as opiniões dela, mas quanto ela é a mais indicada para dirigir o PSD. Assim, não interessará o que Manuela pensa, apenas que Manuela é. E sendo, quando os assuntos são delicados (como será o caso do TGV), pode dar-lhe um assomo de honestidade, afirmando desconhecer a especificidade do assunto. Pena que não adopte a mesmo atitude noutros casos…

Guardei a minha simpatia para com Mário Patinha Antão, o outsider, o que foi convidado a aparecer no programa de Judite Sousa na RTP 1 para não dar mau aspecto e ali não me pareceu nada ter dado má conta do recado, dizendo o que pensa, embora haja muita coisa que ele pensa com que eu não concordo nada. Se isto fosse uma prosa devidamente inspirada nas de Vasco Pulido Valente (distinto comentador do lote num programa da TVI) só faltava recomendar agora o voto em Patinha Antão…
Mas não: a necessidade de que haja uma oposição que, ao menos, importune José Sócrates, obriga-me a desejar que a escolha dos militantes do PSD recaia sobre Manuela Ferreira Leite, a fazer fé nas sondagens que a consideram a mais capaz para tal. E, já agora, que os comentários pós debates se tornaram indispensáveis (com Pulido Valente, Ricardo Costa, Bettencourt Resendes, Luís Delgado, etc.), para quando um debate pós-comentários, com políticos debatendo o posicionamento politico dos comentadores?

* Elegante, gracioso, agradável à vista.

5 comentários:

  1. Interessante como é hábito.

    Apenas acho que, apesar de tudo, é Santana e não Coelho, que está mais próximo de Quayle e até poderia citar uma tirada deste que se encaixa perfeitamente no menino guerreiro:

    "Mereço respeito pelas coisas que não fiz.
    Acontece que sou um presidente Republicano... ah, o vice-presidente."

    Não sei se Manuela servirá para importunar Sócrates, diria antes que até pode servir de precioso auxílio, como aliás interessa a Cavaco.

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  2. Será questão de gosto qual dos dois (Passos Coelho ou Santana Lopes) o JRD considerará mais "handsome".

    Quanto ao que dizia Quayle era doutro campeonato, ao nível do saudoso Américo Thomaz.

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  3. a "handsomness" não faz parte dos meus critérios de avaliação dos políticos, mas sempre adianto que (entre os dois que refere) valorizo mais o... Patinha.

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  4. Ora aí está uma sugestão muito interessante. Daria um debate imperdível...

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  5. Comentar é sempre mais fácil, como os treinadores de bancada ou os teóricos que nunca falharam um penálti.
    O pior é que os políticos são, muitas vezes, comentadores ou teóricos também.
    Dizer que é preciso relançar a economia, melhorar a produtividade, promover a excelência, criar riqueza para depois a distribuir, isso também eu sou capaz de dizer.
    Mas...fazer? Como fazer?
    É a pergunta a que os políticos se safam de responder porque os jornalista nunca a fazem.
    Estão bem uns para os outros...

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