
Essa passagem de Soglo pela presidência foi breve (três meses) e em Janeiro de 1964 o poder era transferido para o antigo Vice-Presidente do governo deposto Sourou Migan Apithy (1913-1989), que se tornou Presidente. Com o tempo, Soglo deve ter-se arrependido do gesto pois em Novembro de 1965 (22 meses passados), quando já promovido a General, depôs o Presidente para regressar ao poder.
Dessa vez o General Soglo aboliu a Constituição original (também para que é que ela ainda servia?), suspendeu os partidos políticos e, em 1967, criou um Comité de Vigilância*, aumentando o controle do exército sobre o governo. Mas em Dezembro de 1967, um grupo de oficiais de uma outra geração, encabeçado agora pelo Tenente-Coronel Alphonse Alley (1930-1987) desencadeou mais outro Golpe de Estado…

A questão dos golpes de estado no Daomé devia ter qualquer coisa a ver com o clima, pois foi também em Dezembro de 1969 que o Tenente-Coronel Paul Émile de Souza (1931-1999) deu o seu, depondo Zinsou. Para não ter surpresas desagradáveis e ter que as anular, Souza suspendeu as eleições de Março de 1970. Mas em Maio desse mesmo ano chegou-se a um acordo para uma presidência rotativa, por períodos de dois anos.
E foram mesmo dois anos que o acordo vigorou, sob a presidência de Justin Ahomadegbé (1917-2002) assessorado pelos seus triúnviros Maga e Apithy, pois em Outubro de 1972 o então Major Mathieu Kérékou (abaixo, 1933-) deu o seu Golpe de Estado e tornou-se por sua vez presidente. E, claro, que também daquela vez a nova versão da Constituição foi suspensa… Como de Gaulle, Kérékou também tinha uma certa ideia do Daomé**…

Em Novembro de 1975, depois de ter derrotado mais uma tentativa de Golpe de Estado contra o seu regime no mês anterior, Kérékou proclamou a República Popular, mudando o nome do país de Daomé para Benin, inspirado no nome histórico de um Reino que existira outrora, mas não propriamente no Daomé, antes na vizinha Nigéria. O exército que serviu para todos estes Golpes de Estado tinha 1.125 oficiais, sargentos e praças em 1970…
A virtude desta República Popular do Benin foi a de trazer a estabilidade a um país que, como se constata, nunca a tivera, com o aspecto irónico de fazê-lo invocando uma ditadura de um proletariado que nunca ali existiu… O regime veio a renunciar à ideologia marxista-leninista em Dezembro de 1989… E esta história dos primeiros 15 anos de existência do Daomé mostra que a causa da descolonização não tinha só aspectos positivos…

* Designação inspirada provavelmente nos Comités de Salvação Pública da Revolução Francesa.
** Alusão ao início das Memórias do General de Gaulle.
*** Crê-se que os Souza são uma família descendente de um comerciante com origens portuguesas e/ou brasileiras que se instalou no Daomé no Século XVII ou XVIII e ali enriqueceu devido ao comércio de escravos para o Brasil. Sempre presentes no vértice da sociedade do Benim, a esposa do seu actual Presidente, Thomas Boni Yayi, é uma Souza…
Vou-me repetir mais uma vez. Mas este é o melhor blog de toda a blogosfera (incluindo o meu ou o do Pacheco Pereira).
ResponderEliminarO seu comentário é simpático, João Moutinho, mais do que isso, é extremamente lisonjeiro, agradeço-o, mas não será um pouco excessivo?...
ResponderEliminarEu não me atrevo a dizer o mesmo que João Moutinho pois não tenho a pretensão de conhecer todos os blogues. Mas que é um blog excelente e que a sua leitura diária se tornou imprescindível, quase um vício, lá isso é verdade. Que tenho aprendido imensas coisas aqui e aprofundado outras, é também uma realidade.
ResponderEliminarAgora dizer que é o melhor de todos isso não posso pois não quero correr o risco de, ao envaidecer-te, perderes a modéstia e ao chegar aqui deparar-me com um flamejante H e um fluorescente A, substituindo as discretas iniciais que tanto trabalho me deram a descobrir.
Não há perigo de me envaidecer e depois, mesmo que houvesse, não há espaço disponível nem tecnologia para que as iniciais H e A ganhassem tamanho e efeitos luminosos especiais como sugeres.
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