21 maio 2008

UMA TEORIA DA CONSPIRAÇÃO

Não se pode dizer que me tenha surpreendido a existência de motins xenófobos nos bairros da lata dos arredores de Joanesburgo. Sempre foi assim em momentos de crise, embora não esteja a ver uma crise económica próxima na África do Sul que os justifique. O que me surpreendeu deveras foi a rapidez e o grau de importância com que despontaram as notícias sobre os motins. Ainda ontem, o Público dedicava-lhe uma fotografia enorme que ocupava metade da primeira página e outra de dimensão idêntica nas páginas interiores acompanhando a notícia. A terceira surpresa foi a sensação de como aquela notícia parecia estar algo empolada.
De acordo com a BBC on-line (continuo a seguir a notícia do Público), haveria 6 mil pessoas em fuga e o resultado dos confrontos desde há uma semana era de 22 mortos e 217 detenções. Poder-nos-á impressionar que a violência se concentre agora nos imigrantes, mas, racionalmente, aquele número de homicídios parece ser trivial para uma cidade que conta com quase 4 milhões de habitantes e se situa num país que é um dos líderes mundiais na taxa de homicídios*. Só que o resto da notícia, ao procurar atribuir as causas desta súbita xenofobia à saturação de imigrantes do Zimbabué, dá-nos uma pista de quem pode estar a promover a notícia e a manobra.
Depois da embaraçosa cena das últimas eleições no Zimbabué, já se tornou evidente que, por acção ou omissão, Thabo Mbeki, o presidente sul-africano, é o último apoio internacional importante que resta a Robert Mugabe. E é evidente que, apanhado de surpresa à primeira, na próxima segunda volta das eleições presidenciais, o regime zimbabueano vai-se aplicar em não ser surpreendido uma segunda vez: nessas próximas eleições, Mugabe vai ser tão bem tratado como Américo Tomás o foi em 1958 em Portugal, e a oposição a Mugabe já percebeu que a mudança política no Zimbabué muito remotamente se fará pela via das urnas…
Ora, aqueles que estão interessados em manobrar para vir a depor Robert Mugabe e o seu regime, têm que condicionar entretanto a liberdade de movimentos de Thabo Mbeki na própria África do Sul, nomeadamente aproveitando (ou desencadeando…) e dando grande publicidade mediática a estes motins xenófobos enquanto põem nos ombros do presidente sul-africano a responsabilidade dele ter importado a crise por causa da forma errada como tem estado a abordar os problemas zimbabueanos. Como deixei claro no título deste poste, é uma história que faz todo o sentido, mas tudo isto não passa de uma saborosa Teoria da Conspiração…

* Em 1998 a África do Sul era a líder mundial com uma taxa de 59 homicídios por 100.000 habitantes. Aplicando esse coeficiente apenas à cidade de Joanesburgo (o que é uma subestimação, dado que a taxa de incidência de homicídios é, desde sempre, muito mais alta nos meios urbanos do que rurais), mesmo assim haveria uma média de 45 homicídios por semana na cidade, um valor que é o dobro do que valeu aquelas parangonas…

1 comentário:

  1. E não será desprovida de sentido.
    Não podem no entanto subsistir quaisquer duvidas de que o "terreno" é propício a essa movimentação.

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