Dos meus outros tempos, sempre fiquei com uma impressão bem vincada: a de que as diferenças entre os sistemas remuneratórios dos gestores de topo das grandes empresas entre os países setentrionais e meridionais da Europa eram mais questão da aparência do que de substância. Nos países da Europa do Sul era-se muito mais descarado e nos do Norte muito mais hipócrita na forma como se abordavam os sistemas remuneratórios que contornavam a incidência fiscal sobre as remunerações recebidas por esses gestores.
Era assim que, mesmo num país de fronteira entre essas duas atitudes, como era o caso da França, a atribuição de um Cartão de Crédito (acima) para pagamento de despesas de representação a um qualquer quadro médio de uma empresa podia ser um verdadeiro tabu (embora fosse prática normal nos outros países latinos), mas nos esquemas de remuneração dos administradores para que ficassem isentos de tributação através do recurso a paraísos fiscais, a escola francesa contava-se entre o que de melhor havia ao nível europeu a esse respeito...
Mas, apesar daquela minha impressão que parecia óbvia (e não resultou de qualquer investigação aprofundada…), durante décadas manteve-se a ficção que essas evasões fiscais eram manobras sórdidas dos mafiosos dos países do Sul. Até que recentemente apareceu (de uma forma mais ou menos escabrosa) na posse do BND* um DVD com os dados de muitas centenas de clientes (e 900 deles eram alemães) de bancos do Liechtenstein que os utilizavam para se evadirem às obrigações fiscais nos seus respectivos países.
Entre aqueles 900 contavam-se muitos dos gestores de topo das maiores empresas alemãs e será no seguimento da confirmação daquilo que o poder político e o fisco alemão considerarão como uma verdadeira traição a uma espécie de pacto oficioso que ficámos a saber que no Conselho dos Ministros das Finanças da União realizado ontem. a União Europeia declara guerra aos salários “escandalosos” dos gestores das empresas**. Falta é saber se e de que forma essa guerra virá a ser travada…
Mas, se essa guerra precisar de vir a ser travada, dificilmente Belmiro de Azevedo e Fernando Ulrich, apesar das declarações tonitruantes que entretanto prestaram, participarão nela com patentes superiores às de cabo ou furriel… Basta comparar a dimensão da fortuna do primeiro (assinalada a vermelho no lugar de Portugal no mapa acima) com as restantes fortunas europeias, de acordo com as listas da Revista Forbes. Compare-se com a Torre constituída pelas fortunas dos milionários alemães, e como a maioria destes andam caladinhos que nem ratos nos últimos meses…
* Bundesnachrichtendienst. Trata-se do Serviço Federal de Informações (espionagem) da Alemanha.
** Titulo do Público de hoje e mais uma prova (caso seja precisa) que, actualmente, a agenda dos assuntos económicos e financeiros europeus é idêntica à agenda alemã.
Era assim que, mesmo num país de fronteira entre essas duas atitudes, como era o caso da França, a atribuição de um Cartão de Crédito (acima) para pagamento de despesas de representação a um qualquer quadro médio de uma empresa podia ser um verdadeiro tabu (embora fosse prática normal nos outros países latinos), mas nos esquemas de remuneração dos administradores para que ficassem isentos de tributação através do recurso a paraísos fiscais, a escola francesa contava-se entre o que de melhor havia ao nível europeu a esse respeito...
Mas, apesar daquela minha impressão que parecia óbvia (e não resultou de qualquer investigação aprofundada…), durante décadas manteve-se a ficção que essas evasões fiscais eram manobras sórdidas dos mafiosos dos países do Sul. Até que recentemente apareceu (de uma forma mais ou menos escabrosa) na posse do BND* um DVD com os dados de muitas centenas de clientes (e 900 deles eram alemães) de bancos do Liechtenstein que os utilizavam para se evadirem às obrigações fiscais nos seus respectivos países.
Entre aqueles 900 contavam-se muitos dos gestores de topo das maiores empresas alemãs e será no seguimento da confirmação daquilo que o poder político e o fisco alemão considerarão como uma verdadeira traição a uma espécie de pacto oficioso que ficámos a saber que no Conselho dos Ministros das Finanças da União realizado ontem. a União Europeia declara guerra aos salários “escandalosos” dos gestores das empresas**. Falta é saber se e de que forma essa guerra virá a ser travada…
Mas, se essa guerra precisar de vir a ser travada, dificilmente Belmiro de Azevedo e Fernando Ulrich, apesar das declarações tonitruantes que entretanto prestaram, participarão nela com patentes superiores às de cabo ou furriel… Basta comparar a dimensão da fortuna do primeiro (assinalada a vermelho no lugar de Portugal no mapa acima) com as restantes fortunas europeias, de acordo com as listas da Revista Forbes. Compare-se com a Torre constituída pelas fortunas dos milionários alemães, e como a maioria destes andam caladinhos que nem ratos nos últimos meses…
* Bundesnachrichtendienst. Trata-se do Serviço Federal de Informações (espionagem) da Alemanha.
** Titulo do Público de hoje e mais uma prova (caso seja precisa) que, actualmente, a agenda dos assuntos económicos e financeiros europeus é idêntica à agenda alemã.
Se bem compreendi os "Generais" portugueses não chegam a "Sargentos".
ResponderEliminarPorca de guerra a nossa.
Num país onde o presidente de um clube de futebol consegue fazer uma exibição de força política mobilizando cerca de 20% dos deputados do parlamento para uma daquelas jantaradas que só têm lugar (e a devida publicidade...) quanto o dito presidente se encontra fragilizado, não serão os quadros superiores das grandes empresas nacionais que se deixarão ficar para trás na arte de "falar forte" para tentar intimidar o poder político nacional.
ResponderEliminarNoutras paragens, quando os detentores do poder económico incorrem no desagrado dos detentores do poder político acontecem-lhes coisas como ao Senhor Khodorkovsky que já foi muito rico (tinha uma enorme companhia petrolífera chamada Yukos) e agora arranjaram-lhe um condomínio "especial" na Sibéria.
http://herdeirodeaecio.blogspot.com/2006/03/quando-o-mar-bate-na-rocha-este-post.html
Claro que isso é impensável na União Europeia, mas é sempre saudável pensar duas vezes antes de engrossar a voz: todas as grandes empresas do Mundo podem ter sempre problemas fiscais...
Tem toda a razão.
ResponderEliminarIndependentemente da cor clubística, é patético como os 60 deputados -creio que a maior parte são figurantes de todas as bancadas(?)- se prestaram a uma farsa daquelas, na tentativa de branquear o que está irremediavelmente encardido.
Quanto ao senhor Khodorkovsky, cuja história não conhecia, só terá paralelo, sem Sibéria, cá no burgo com o acusado do costume, o Vale e Azevedo, passe o evidente exagero.
Ademais, creio que a cena do Parlamento, só por si diz-nos que os tais Quadros Superiores podem mesmo falar grosso, seja em que circunstância for, que ninguém os leva presos, porque isso só acontece na União Europeia, na outra...