25 maio 2008

AIRFRAME

A fotografia abaixo, onde se vê um avião comercial de passageiros a sobrevoar um aeroporto numa posição anormalmente vertical, indicadora que algo de anormal se passava, veio a tornar-se na maior responsável pelo fracasso comercial daquele tipo de aparelhos na aviação civil (trata-se de um DC-10, construído pela McDonnell Douglas). Como em muitas coisas na vida, se as consequências comerciais foram implacáveis, as aparências eram, naquele caso, enganadoras: as responsabilidades maiores pelo acidente não eram da construtora.
Mas comecemos pelo princípio daquela viagem, que durou pouco: aquele DC-10, que pertencia à American Airlines, descolou do aeroporto de Chicago a 25 de Maio de 1979 com 271 pessoas a bordo. Ainda na fase de descolagem perdeu o motor do lado esquerdo (daí a posição e a aparência assimétrica do avião na fotografia), tendo-se despenhado num parque de caravanas muito próximo do aeroporto, depois de se ter mantido cerca de meio minuto no ar. Morreram todos os que iam a bordo e ainda mais duas pessoas no solo.
Apesar da má reputação automaticamente atribuída a um aparelho que parecia deixar peças pelo caminho, o inquérito sobre o acidente veio a revelar que haviam sido os serviços de manutenção da American Airlines que haviam mudado aquele motor algumas semanas antes do acidente não tendo respeitado, por razões económicas, os procedimentos estabelecidos pela Douglas para essa delicada operação. Mas o relatório demorara 7 meses a sair e, entretanto, os estragos na imagem já estavam feitos.
Airframe (acima) é uma novela da autoria de Michael Crichton onde este mesmo assunto é abordado, dando ênfase ao facto de que entre os factores que provocam os desastres de aviação (normalmente existe um encadeamento ou uma conjugação de factores), os mais frequentes resultam de erros individuais ou de deficiências de operação do pessoal de voo ou de manutenção das companhias aéreas que operam as aeronaves. São muito mais raros aqueles que são provocados por causas naturais, desconhecidas ou associadas à concepção original dos aparelhos.

4 comentários:

  1. De Michael Crichton li apenas o inevitável "Jurassic Park", "The lost World" e "Disclosure". Ora aqui está mais um que provavelmente me interessará

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  2. Não foi caso único!
    Creio, se a memória não me atraiçoa, que houve mais dois acidentes semelhantes.
    O problema estava nos 3 parafusos que sustentavam os motores 1 e 3, que partiam.
    Se era por defeito de manutenção - não me lembro desse "pormenor" - tal não evitou que, na aviação comercial portuguesa, o DC-10 tivesse passado a ser conhecido pelo "Shelltox - Mata que se farta".

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  3. Donagata, não sei se Airframe está traduzido no português deste lado do Atlântico. Na versão brasileira chama-se "Armadilha Aérea" e é, conjuntamente com "Sol Nascente" e os citados, das novelas clássicas de Crichton que mais valem a pena ler. As mais recentes estão descaradamente escritas como guiões para filme.

    Impaciente, o poste tem uma ligação para uma síntese do relatório do NTSB, onde se indica que, além da American, também a United e a Continental Airlines mudavam os motores da mesma maneira... Era da qualidade do material que mais motores não se tivessem decidido a "ir embora" durante o voo... Claro que o interesse de 3 das maiores companhias de aviação dos USA era que a aparência de culpa caísse em cima do DC-10...

    Também os jogadores de futebol a quem lhes salta a bota com o chuto costumam culpar a bota, não o facto de não saberem atacá-la devidamente...

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  4. Quem não sabe ver... lê os bonecos!
    O "link" é esclarecedor, mas é preciso dar por ele, coisa que não fiz!

    Quanto aos problemas de manutenção, vai ser cada vez mais problemático evitá-los, porque os preços dos bilhetes não têm acompanhado a escalada dos custos.
    Há muitos anos que digo que "aviação" se devia escrever com "h": (H)aviação!
    Talvez o novo acordo ortográfico me compreenda.

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