A invasão da Sicília desencadeou uma manobra palaciana que acabou por conduzir à deposição do Duce, Benito Mussolini (25 de Julho de 1943). E o novo governo italiano, que era encabeçado pelo Marechal Badoglio procurou discretamente encetar contactos com os Aliados por forma a que fosse assinado um Armistício com eles. Tratava-se de uma oportunidade preciosa para os Aliados: se essa manobra fosse desencadeada de surpresa e bem coordenada do ponto de vista político e militar as Forças Aliadas poderiam progredir rapidamente em direcção a Norte através de toda a Península italiana, neutralizando os destacamentos militares alemães presentes em Itália. O pior era a desconfiança germânica…
Contudo, em Berlim parecia não haver ilusões quanto às intenções italianas. Adolf Hitler foi estenografado clamando, vingativo: É preciso trazer-me toda a camarilha, com o príncipe herdeiro à frente… O comportamento italiano foi, no que concerne às relações ítalo-alemãs, de uma duplicidade irrepreensível. Mas a triplicidade germânica foi ainda superior. Em antecipação ao anúncio público do Armistício (8 de Setembro de 1943) que fora previsto para coincidir com o desembarque das Forças Aliadas no Golfo de Salerno (abaixo), os alemães desencadearam a sua Operação Alarico, neutralizando e aprisionando os soldados de todas as unidades das Forças Armadas italianas.
Para os Aliados perdera-se totalmente o efeito de surpresa – chegara a equacionar-se a hipótese de, com a conivência dos italianos, uma das suas divisões de pára-quedistas saltasse sobre Roma! – e a progressão dos dois Exércitos Aliados (o V norte-americano, a ocidente e o VIII britânico, a oriente) em direcção ao Norte passou a fazer-se numa frente de combate estreita (200 km), acidentada e quase sem vias de comunicação. Era uma situação onde as condições dificultavam a aplicação da superioridade material dos Aliados e, pelo contrário, facilitavam a tarefa aos defensores que quase podiam impor o ritmo de progressão do adversário: apenas a 1 de Outubro a cidade de Nápoles foi conquistada.
Na Frente italiana entrara-se numa espécie de impasse táctico de posições fixas, muito à semelhança do que acontecera na Frente Ocidental na Primeira Guerra Mundial. Perdera-se assim todo o interesse estratégico. Em finais de Dezembro de 1943, tanto Eisenhower como Montgomery abandonaram os seus comandos e regressaram ao Reino Unido em preparação ao desembarque da Normandia que estava programado para daí a poucos meses. O mesmo acontece às melhores unidades britânicas e norte-americanas (como as divisões de pára-quedistas), que vieram a ser substituídas por divisões de outras nacionalidades – francesas (de origem norte-africana, abaixo), polacas, indianas, neo-zelandesas, etc.
Contudo, em Berlim parecia não haver ilusões quanto às intenções italianas. Adolf Hitler foi estenografado clamando, vingativo: É preciso trazer-me toda a camarilha, com o príncipe herdeiro à frente… O comportamento italiano foi, no que concerne às relações ítalo-alemãs, de uma duplicidade irrepreensível. Mas a triplicidade germânica foi ainda superior. Em antecipação ao anúncio público do Armistício (8 de Setembro de 1943) que fora previsto para coincidir com o desembarque das Forças Aliadas no Golfo de Salerno (abaixo), os alemães desencadearam a sua Operação Alarico, neutralizando e aprisionando os soldados de todas as unidades das Forças Armadas italianas.
Para os Aliados perdera-se totalmente o efeito de surpresa – chegara a equacionar-se a hipótese de, com a conivência dos italianos, uma das suas divisões de pára-quedistas saltasse sobre Roma! – e a progressão dos dois Exércitos Aliados (o V norte-americano, a ocidente e o VIII britânico, a oriente) em direcção ao Norte passou a fazer-se numa frente de combate estreita (200 km), acidentada e quase sem vias de comunicação. Era uma situação onde as condições dificultavam a aplicação da superioridade material dos Aliados e, pelo contrário, facilitavam a tarefa aos defensores que quase podiam impor o ritmo de progressão do adversário: apenas a 1 de Outubro a cidade de Nápoles foi conquistada.
Na Frente italiana entrara-se numa espécie de impasse táctico de posições fixas, muito à semelhança do que acontecera na Frente Ocidental na Primeira Guerra Mundial. Perdera-se assim todo o interesse estratégico. Em finais de Dezembro de 1943, tanto Eisenhower como Montgomery abandonaram os seus comandos e regressaram ao Reino Unido em preparação ao desembarque da Normandia que estava programado para daí a poucos meses. O mesmo acontece às melhores unidades britânicas e norte-americanas (como as divisões de pára-quedistas), que vieram a ser substituídas por divisões de outras nacionalidades – francesas (de origem norte-africana, abaixo), polacas, indianas, neo-zelandesas, etc.
Enquanto a Itália demorara pouco mais de um mês a passar de aliada da Alemanha para sua inimiga (de 7 de Setembro a 13 de Outubro), do outro lado dessa frente que dividia a Itália em duas, depois da libertação de Mussolini do seu cativeiro em 12 de Setembro de 1943, criara-se uma ficção de ressurgimento de um novo Pacto Germano-italiano, através do aparecimento de uma República Social Italiana, herdeira aparente das tradições do fascismo, mas que não passava de um protectorado germânico. Nem países simpatizantes da causa, como era o caso da Espanha franquista, mesmo quando solicitada directamente pela Alemanha, se dispuseram a reconhecer diplomaticamente o novo regime…
Ainda houve uma tentativa de contornar as posições defensivas alemãs lançando mais um desembarque anfíbio em Anzio, nos arredores de Roma, em Janeiro de 1944 mas a Operação Shingle veio a revelar-se um fracasso. O ritmo de progressão das Forças Aliadas passou a ser marcado pelo grau de exaustão das Forças alemãs que lhes faziam frente; quando esse limite era atingido estas últimas recuavam para uma nova linha defensiva ligeiramente mais a Norte, que fora cuidadosamente seleccionada e cujas posições haviam sido preparadas de antemão. Em 4 de Junho de 1944 os Aliados atingiram Roma (abaixo), mas o feito foi completamente obscurecido pelo Desembarque na Normandia dois dias depois.
O desembarque aliado nas costas mediterrânicas da França em 15 de Agosto de 1944 (Operação Dragoon) desguarneceu ainda mais (desta vez em divisões francesas) a Frente italiana. Outras unidades vieram substituí-las incluindo uma divisão brasileira* e a única divisão norte-americana (92ª) composta por afro-americanos** presente na Europa. O conjunto de nacionalidades das unidades combatentes em Itália pelos Aliados é capaz de ter constituído o recorde daquele conflito: houve norte-americanos, britânicos, canadianos, neo-zelandeses, sul-africanos, polacos, franceses, argelinos, marroquinos e brasileiros, além dos italianos que combateram pelos aliados, evidentemente.
Quanto à questão por onde começámos, a da disputa estratégica entre britânicos e norte-americanos sobre o estabelecimento das prioridades sobre quais deveriam ser os objectivos militares da reconquista da Europa durante a Segunda Guerra Mundial, mau grado os dotes de persuasão de Alan Brooke e dos britânicos, provou-se que Marshall e os norte-americanos, não tendo razão na forma***, acabavam por a ter no fundo. Apesar dos precedentes históricos, como o caso das Guerras Napoleónicas onde os britânicos se empenharam também em teatros periféricos como a Península Ibérica, do ponto de vista estratégico a decisão da Segunda Guerra Mundial jamais teria sido decidida na Península Itálica...
* O emblema identificativo da Força Expedicionária Brasileira (FEB) que se vê acima é uma alusão directa a um discurso neutralista de Getúlio Vargas (o Presidente brasileiro), proferido logo no início da Guerra, em que afirmou que era mais fácil uma cobra fumar do que o Brasil entrar na guerra. Depois dos Estados Unidos entrarem em Guerra, o Brasil veio a alinhar as suas posições com eles, e apareceu esta cobra fumadora...
** A segregação oficial nas Forças Armadas norte-americanas só terminou em 1948.
Ainda houve uma tentativa de contornar as posições defensivas alemãs lançando mais um desembarque anfíbio em Anzio, nos arredores de Roma, em Janeiro de 1944 mas a Operação Shingle veio a revelar-se um fracasso. O ritmo de progressão das Forças Aliadas passou a ser marcado pelo grau de exaustão das Forças alemãs que lhes faziam frente; quando esse limite era atingido estas últimas recuavam para uma nova linha defensiva ligeiramente mais a Norte, que fora cuidadosamente seleccionada e cujas posições haviam sido preparadas de antemão. Em 4 de Junho de 1944 os Aliados atingiram Roma (abaixo), mas o feito foi completamente obscurecido pelo Desembarque na Normandia dois dias depois.
O desembarque aliado nas costas mediterrânicas da França em 15 de Agosto de 1944 (Operação Dragoon) desguarneceu ainda mais (desta vez em divisões francesas) a Frente italiana. Outras unidades vieram substituí-las incluindo uma divisão brasileira* e a única divisão norte-americana (92ª) composta por afro-americanos** presente na Europa. O conjunto de nacionalidades das unidades combatentes em Itália pelos Aliados é capaz de ter constituído o recorde daquele conflito: houve norte-americanos, britânicos, canadianos, neo-zelandeses, sul-africanos, polacos, franceses, argelinos, marroquinos e brasileiros, além dos italianos que combateram pelos aliados, evidentemente.
Quanto à questão por onde começámos, a da disputa estratégica entre britânicos e norte-americanos sobre o estabelecimento das prioridades sobre quais deveriam ser os objectivos militares da reconquista da Europa durante a Segunda Guerra Mundial, mau grado os dotes de persuasão de Alan Brooke e dos britânicos, provou-se que Marshall e os norte-americanos, não tendo razão na forma***, acabavam por a ter no fundo. Apesar dos precedentes históricos, como o caso das Guerras Napoleónicas onde os britânicos se empenharam também em teatros periféricos como a Península Ibérica, do ponto de vista estratégico a decisão da Segunda Guerra Mundial jamais teria sido decidida na Península Itálica...
* O emblema identificativo da Força Expedicionária Brasileira (FEB) que se vê acima é uma alusão directa a um discurso neutralista de Getúlio Vargas (o Presidente brasileiro), proferido logo no início da Guerra, em que afirmou que era mais fácil uma cobra fumar do que o Brasil entrar na guerra. Depois dos Estados Unidos entrarem em Guerra, o Brasil veio a alinhar as suas posições com eles, e apareceu esta cobra fumadora...
** A segregação oficial nas Forças Armadas norte-americanas só terminou em 1948.
*** Aprendeu-se imenso com as várias operações anfíbias da Sicília e da Itália e esses conhecimentos foram muito úteis na Normandia.
Mais um post, entre outros, particularmente interessante para entender como funciona uma coligação
ResponderEliminarLS
sempre didáctico
ResponderEliminar:)
As solidariedades inter-fascistas sempre se evidenciaram pelo uso da faca e das costas dos outros.
ResponderEliminarÉ da História.
Muito interessantes estes dois últimos postes e particularmente esclarecedores de alguns aspectos mais obscuros do desenrolar da II guerra mundial.
ResponderEliminarTenho aprendido mais sobre o assunto com os teus postes do que quando tive de fazer uma cadeira dedicada apenas a este período...
Aguardo os próximos com interesse.