
Eram duas escolas de pensamento estratégico, dirigidas respectivamente por George Marshall, do lado norte-americano, e por Alan Brooke, onde os argumentos dos primeiros contavam com o peso dos seus recursos materiais e humanos e os dos segundos com o peso da sua experiência. Alan Brooke chamou a atenção aos seus aliados que a abertura de uma Frente Ocidental nos moldes desejados por eles só se poderia realizar através de um desembarque anfíbio em regiões defensivamente preparadas pelo inimigo, nas costas francesas, belgas, holandesas… ou alemãs. E o desembarque tinha que ser obrigatoriamente bem sucedido, porque os custos políticos e militares de um fracasso de uma operação de tal magnitude seriam inaceitáveis.

Foi assim que acabou por vingar o plano britânico, que começava por um desembarque na África do Norte francesa (Novembro de 1942), onde os defensores seriam as pouco empenhadas tropas francesas fiéis a Vichy. Seguir-se-iam os desembarques na Sicília e na Península italiana. À racionalidade dos argumentos de Alan Brooke, juntou-se depois a riqueza metafórica da prosa de Churchill: Estamos a fazer este vasto movimento de cerco no Mediterrâneo, (…) tendo como objectivo expor o ventre do Eixo, especialmente a Itália, a um pesado ataque. Mas não foi a retórica, e sim a prática que demonstrou aos norte-americanos que os britânicos eram capazes de ter razão...

Para mencionar apenas um exemplo, a ausência de um verdadeiro serviço de meteorologia, transformou a primeira utilização de tropas pára-quedistas em campanha por parte do Aliados num enorme fiasco. Os fortes ventos que se fizeram sentir dispersaram os aviões que transportavam os pára-quedistas norte-americanos (só metade deles se chegaram a reagrupar em terra), enquanto, entre os britânicos, os mesmos ventos afectaram de tal maneira a progressão dos planadores em que eles se faziam transportar que, num caso, apenas 12 dos 127 planadores aterraram no local previsto, enquanto noutra operação, metade dos planadores nem chegaram a terra, tendo de amarar…

(continua)
* A citação total em inglês é: We make this wide encircling movement in the Mediterranean, having for its primary object the recovery of the command of that vital sea, but also having for its object the exposure of the underbelly of the Axis, especially Italy, to heavy attack. Mais tarde ela foi sintetizada para uma expressão que se pode traduzir por ventre mole da Europa (soft underbelly of Europe). Embora as expressões mole e Europa não tivessem sido expressamente utilizadas na citação original elas não parecem atraiçoar a intenção do autor.
É curiosa as gloriosas intervenções da duas potências latinas durante a guerra. Acho que aquele que os tivesse como aliados estaria sempre em desvantagem.
ResponderEliminarEstou me a lembrar daquele episódio contado por Anthony Beavour em "Estalinegrado" em que após a rendição de um batalhão inteiro italiano o oficial soviético indagou-os pelo facto de não oferecerem resistência ao que responderam "seria um erro combater".
Os britânicos, apesar de tudo, chegaram a estar sozinhos frente a soviéticos e alemães.
Ao contrário do que acontecia com os outros países aliados da Alemanha durante a Segunda Guerra Mundial (Roménia, Hungria, Finlândia, Eslováquia), faltava à participação militar italiana na Frente Leste a necessária animosidade contra a ameaça representada pelo grande vizinho russo.
ResponderEliminarDaí (e da falta de equipamento adequado...) a paupérrima prestação militar dos italianos.
Lido com interesse.
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