A 1 de Setembro de 1983, um Boeing 747 da companhia aérea sul-coreana Korean Air Lines (KAL) desviou-se de sua rota planeada e entrou no espaço aéreo soviético que lhe estava interditado. O aparelho veio a ser abatido por um caça Sukhoi Su-15 soviético a Oeste da Ilha Sacalina, na Rússia. Não houve qualquer sobrevivente dos 269 passageiros e tripulantes que seguiam a bordo. O episódio representou um dos momentos mais tensos da Guerra Fria. A gestão mediática do acontecimento por parte dos responsáveis soviéticos foi um exemplo académico do que não se devia fazer: começou inicialmente por negar ter conhecimento do que acontecera, para depois admitir que uma das suas unidades de defesa aérea havia abatido o Boeing sul coreano, mas alegando que o avião estaria em missão de espionagem. Para além disso, o Kremlin acusava a Casa Branca que se tratara de uma provocação deliberada por parte dos Estados Unidos, para testar a prontidão militar da União Soviética. Mas o bom destes episódios é que, em querendo mesmo, aparecem sempre os imbecis que pretendem nivelar por eles a discussão sobre o assunto, insultando no processo a inteligência alheia, e envolvendo o caso de um mistério insondável que os factos posteriores vêm sempre a demonstrar que não existe (abaixo temos o exemplo bem recente de um desses imbecis, a propósito da insolubilidade de descobrir quem foi o responsável pelo abate de um outro avião em espaço aéreo russo: o avião de Prigojine). No caso deste avião sul coreano, depois do colapso da União Soviética em 1991, veio a descobrir-se que os soviéticos haviam recuperado as caixas negras do avião abatido, algo que eles haviam escondido até então, provavelmente porque o conteúdo dessas caixas desmentia grande parte das suas teses sobre aquilo que acontecera há 40 anos.
Como se percebe, e agora recuperando um outro abate de um avião bem mais recente, a argumentação absurda motivada pelas simpatias por uma causa não é um fenómeno novo. Na realidade, são muito raros os mistérios que perduram para sempre. Pode argumentar-se que sim, mas não. O que é diferente é ver antigos oficiais generais envolvidos nessa actividade. Naqueles outros tempos, ser-se oficial general era uma condição respeitada, porque os próprios a respeitavam. Agora, com algumas honrosas excepções, são para ser mais ou menos comparados a paineleiros de programas de futebol, com o seu clube de eleição.
Sem comentários:
Enviar um comentário