O entrevistado vai fazer brevemente 80 anos e foi galardoado com o Prémio Nobel há 30, em 1993. Nessa altura, quando contava 50 anos e teria outra pujança intelectual, aí teria sido interessante entrevistá-lo. Agora nem tanto, mesmo que uma entrevista menor possa colmatar tão bem um buraco noticioso quanto outra mais substantiva e interessante. Aos 80 anos a diferença estará nos conteúdos. Muito frequentemente, aquilo que lá aparece está completamente ultrapassado. Por exemplo e com os mesmo 80 anos e no mesmo jornal, António Barreto escreve artigos de opinião a propor António Guterres como candidato presidencial em 2026 (Para eventualmente suceder, aos 76 anos, a alguém - Marcelo Rebelo de Sousa - que tem a mesma idade...) Felizmente Richard J. Roberts não se refere concretamente à política portuguesa, mas, quanto a princípios gerais de política, mormente quanto ao assunto que foi repuxado para título, esquece-se de nomear quem serão os jurados que definirão quem é que «não sabe nada de ciência», aqueles que seriam, por assim dizer, despojados da capacidade de «interferir na política». Saber não apenas quem seriam os jurados, mas também como é que as suas decisões seriam implementadas... É que me parece que um dos grandes problemas deste primeiro quartel do século XXI, já depois de Roberts ter passado do prazo de validade, é o do desaparecimento dos padrões sobre os quais assentava a meritocracia, vivemos com um novo conjunto de parâmetros sobre os quais assenta a auctoritas, vivemos o período da impunidade da ignorância. Científica mas não só.
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