18 setembro 2023

LEVE-LHES UMA TIGELINHA DA SUA MARMELADA. A DAS TIAS. COM MENOS 1/4 DE AÇÚCAR, CLARO.

Um dos aspectos inaceitáveis de alguns ministros do actual governo é este expediente comunicacional de se dissociarem das suas responsabilidades governativas e comentar os acontecimentos criticamente, como se se tratassem de cidadãos que não têm nada a ver com o assunto. Lendo a notícia acima, é-se embalado na pergunta: em que é que o ministro da Saúde tem culpa «de haver utentes de madrugada à porta dos centros de saúde»?... Claro que, a armar-se assim em parvo, fingindo que não é nada com ele, o truque pega-se por aí abaixo na hierarquia do ministério: outro dia era o secretário de Estado da mesma pasta, Ricardo Mestre, a informar-nos que «há mais 600 mil utentes inscritos no SNS do que residentes em Portugal continental». O Polígrafo foi saber se era verdade e era, mas isso é o acessório. A capacidade dos governantes se dissociarem do que lhes devemos exigir - e a incompetência dos jornalistas - é tal que nenhum jornalista se lembrou de ir perguntar a Ricardo Mestre o que é que os serviços do ministério da Saúde estão a fazer para rectificar os números, para passarem a dispor de estatísticas credíveis. Quando é que há números fiáveis? Querem ver que a solução para o problema não tem nada a ver com os serviços do ministério da Saúde?... É a imagem que ministro e secretário de Estado transmitem para a opinião pública: eles estão lá só para dizer umas coisas solidárias com os utentes. Os problemas chatos são para ser tratados pelo outro, o director executivo, o Mourinho-para-a-saúde, que foi contratado o ano passado para pôr a equipa a render. O problema é que há imensos problemas de balneário e a equipa não rende.

O actual ministro da Saúde notabilizou-se o ano passado por, num dos fins de semana mais complicados das urgências dos hospitais, ter publicado no facebook como havia sido parte da sua ocupação desse fim de semana: a fazer marmelada. Seguindo a receita das tias. Mas cortando no açúcar. Respondendo-lhe no mesmo registo que ele tem dado mostras, se Manuel Pizarro quiser ser mesmo útil, que reserve uma próxima madrugada para levar umas tigelinhas da sua marmelada aos utentes que estão à espera à porta num dos centros de saúde. Adoce-lhes a boca com qualquer coisa concreta, em vez de tentar fazer coro com as indignações delas, como se elas fossem parvas.

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