16 setembro 2023

OS MOTINS DE QUE NUNCA NINGUÉM FALA

(Republicação)
16 e 17 de Setembro de 1943. Há assuntos em que todos os exércitos do mundo compartilham a mesma compulsão para os abafar. Os motins são um deles. Soldados que subvertem a ordem estabelecida é algo de que a hierarquia militar dispensa. Os motins são abafados quando eclodem e são abafados dos registos. Normalmente estes últimos, indispensáveis para as sanções, desaparecem depois dos arquivos. Mas é por isso mesmo que vale a pena destacar a coincidência temporal destes dois, ocorridos há precisamente 80 anos, um de cada lado da Segunda Guerra Mundial que então se travava. O primeiro caso envolveu um grupo de 300 veteranos da 50ª e 51ª divisões britânicas (VIII Exército), que haviam sido originalmente transportados do norte de África para se reunirem com as suas unidades então colocadas na Sicília, quando foram realocados inesperadamente (e em trânsito) como reforços das muito menos prestigiadas 46ª e 56ª divisões (V Exército), que estavam então engajadas em combate em Salerno, na própria península italiana. O livro acima, publicado em 2005, defende a sua causa: alguém os havia aldrabado, o que não invalidou que os cerca de 200 amotinados viessem a ser julgados em tribunal militar e condenados. Ao mesmo tempo e a algumas centenas de quilómetros dali, na 13ª divisão SS (Cimitarra), estacionada em Aveyron na França, desencadeou-se um outro motim. Aqui, as razões eram outras. Apesar de pertencente às SS, a unidade era composta de uma esmagadora maioria de muçulmanos bósnios, embora os oficiais fossem todos de origem germânica. Obviamente, a adesão à causa alemã era, por isso, algo hesitante. A recente rendição de Itália tornara a situação militar na Jugoslávia assaz periclitante, obrigando o dispositivo militar germânico a ter que se desdobrar para suprir o desaparecimento das unidades italianas que com eles ocupavam a Jugoslávia. As guerrilhas nacionalistas e comunistas aproveitaram esse momento de fraqueza e entre os soldados bósnios houve quem pensasse que a sua unidade pudesse desempenhar um papel autónomo do preconizado pelos alemães. O motim assinalou-se pelo assassinato de cinco oficiais alemães. Os números diferem substancialmente quanto ao número de amotinados mortos e sancionados pela repressão alemã - de 14 a 141 mortos. Várias centenas foram expulsos das fileiras e mandados para organizações de trabalho forçado ou para campos de concentração. Estas são as pequenas histórias da Segunda Guerra Mundial que não se costumam contar.

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