17 setembro 2023

O TERRORISMO «SIMPÁTICO»

(Republicação)
17 de Setembro de 1948. Um grupo terrorista radical sionista assassinava o enviado especial da ONU para a resolução do problema israelo-árabe, quando este se encontrava numa visita de trabalho à Palestina, para propor uma solução que acomodasse a hostilidade árabe e a recente proclamação do estado de Israel. Folke Bernadotte (1895-1948) era um diplomata sueco pertencente à família real sueca (era neto do rei Óscar II), que já se distinguira por negociações para o resgate de prisioneiros durante a Segunda Guerra Mundial e que casara nos Estados Unidos com uma herdeira de um grande empório industrial local ligado ao amianto. Mas, nem mesmo o facto de Bernadotte ser nobre, de abraçar causas nobres, de ser rico e de, além disso, possuir uma bela figura, induzirá a comunicação social americana (e a mundial, por arrasto) a indignar-se retumbantemente com o seu assassinato, como seria de esperar tivessem sido outros os autores do atentado. Nos Estados Unidos, onde se iriam disputar eleições presidenciais em Novembro próximo, alguém criara a convicção generalizada que o voto judaico seria decisivo para o seu desfecho. A ideia prevalecente era cortejar os judeus, Israel e a causa sionista mesmo que alguns dos seus membros mais radicais cometessem estes actos hediondos.
O teor da notícia acima no New York Times é de destacar, mas pela sua excepcionalidade. Veja-se o contraste com a primeira página do Diário de Lisboa desse mesmo dia, que corresponde muito mais à cobertura noticiosa que o acontecimento recebeu. Nota-se na notícia abaixo a ausência de uma fotografia do assassinado (que seria muito mais pertinente do que a do avião que lá aparece...) e um vocabulário redutor: Bernadotte morreu, não foi assassinado. Quanto ao teor da notícia, nada se diz dos detalhes do atentado (que se podem ler acima, no cabeçalho do NYT, do lado direito: o carro foi emboscado, a autoria foi estabelecida). Quanto ao corpo da notícia, ela não passa uma reflexão vaga e (propositadamente?) genérica sobre as implicações da sua morte para a paz mundial... Neste clima, não surpreenderá saber que as investigações das autoridades israelitas para a captura dos responsáveis foram absolutamente negligentes. Tanto que Israel foi condenado em tribunal internacional a pagar à ONU uma indemnização de 54 mil dólares. E excepcionalmente neste caso, foi depois possível avaliar qual o apoio popular que esta organização terrorista gozava junto da população. Nas eleições de Janeiro de 1949, a sua fachada política legal conquistou 1 lugar de deputado entre os 120 com que contava o Knesset... Em nome de quem é que aquela gente adoptava àquela conduta?

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