7 de Setembro de 1973. Conforme se pode depreender pela carta acima de um leitor, Portugal vivia uma crise de trocos. Durante todo o período do Estado Novo, desde 1927, o país habituara-se a umas moedas de escudo (e de 50 centavos) de alpaca (abaixo, à esquerda). A última emissão dessas moedas datava de 1968. A partir de 1969 e como se fosse uma expressão numismática da Primavera Marcelista (tratava-se apenas de coincidência), o formato das moedas de pequeno valor mudara, substituída por estas outras moedas mais escuras, em bronze (abaixo, à direita). Durante cerca de quatro anos as moedas dos dois géneros mantiveram-se em circulação simultânea, até que se quis acelerar o ritmo de recolha das moedas mais antigas. E aí começaram os problemas.
Foi um período de muita imaginação quanto a substitutos para as moedas em falta. Numa reportagem de televisão transmitida em Novembro daquele mesmo ano, protagonizada por Fernando Pessa com a colaboração de alguns dos seus colegas da RTP (Maria Elisa, Maria Leonor, Henrique Mendes, José Fialho Gouveia e Fernando Balsinha), pode-se assistir a um encadeado de situações que aconteciam quotidianamente aos portugueses. Os trocos improvisados podiam ser rebuçadinhos numa pastelaria, uma gravata numa loja de pronto a vestir, pregos numa loja de ferragens, ou senhas - que é o caso do protesto do leitor mais acima - nos transportes da Carris. A reportagem ainda se mantém engraçada e pode ser vista nos arquivos da RTP. Mas em nenhum momento são evocadas as razões de fundo para o problema, muito menos nomeados os responsáveis da Casa da Moeda que haviam preparado tão mal o processo de transição.
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