Na televisão, os gráficos são exibidos em questões de segundos e, quando explicados, são-no a um ritmo tão acelerado que, raramente dão espaço a que o telespectador compreenda do gráfico muito mais do que os elementos essenciais que o autor da informação quer enfatizar. No caso acima, de um programa televisivo de anteontem na CNN, a ideia seria demonstrar que o coronavírus também infecta os adultos mais novos («younger adults») em percentagens apreciáveis. Só que, para o demonstrar melhor, o gráfico acabou levando um trato de polé... Aparentemente, as faixas etárias pelas quais se distribuem os casos são equivalentes, abrangendo intervalos de 20 anos: começa-se pelos 0-19; 20-39; 40-59; 60-79; + 80. Devia ser assim. Mas depois, rebobina-se o vídeo e percebe-se que não é. Para que o gráfico desse um visual mais conforme, o intervalo seguinte dos jovens adultos foi alargado dos 20 aos 44 anos (25 anos), com 29% dos casos, a maior incidência de todos os níveis etários (aparentemente...). Porém, os intervalos seguintes são de 10 anos (45-54 e 55-64 anos), para que nenhum deles seja maior que o dos mais novos (em conjunto somariam 36%, o que seria superior ao nível etário anterior, estragando a mensagem). Para rematar, resta a constatação que 31% dos casos atingem aquilo que antigamente se designava por terceira idade, ou seja acima dos 65 anos, o que é também ainda superior aos casos registados nos jovens adultos. Ou seja: o gráfico, como aquele do défice apresentado pelo José Gomes Ferreira ao António Costa, é uma grande aldrabice. Se outrora estes truques passavam impunes, actualmente, porque os momentos ficam registados, a impunidade deixou de ser o que era. Ao contrário do que me parece que se repete com insistência desmesurada, a questão da aldrabice e da manipulação da informação não se circunscreve aos produtores avulsos das redes sociais: o problema é que, com uma frequência embaraçosa, os produtores institucionais (como aqui a CNN) são também apanhados a aldrabar e a manipular, e é assim que não se consegue preferir uns aos outros.
...ou, se calhar, consegue-se. Tome-se, para exemplo, este gráfico comparando a distribuição percentual das faixas etárias da população italiana e a distribuição (também percentual) dos casos de infecção por coronavírus. Por acaso, é muito mais esclarecedor e muito menos propenso a confusões do que o gráfico apresentado pela CNN. Por acaso, desmente completamente aquilo que a CNN pretenderia sugerir com a sua informação. Por acaso, encontrei o gráfico nas redes sociais, com o autor devidamente identificado e a identidade do autor à distância de uma pesquisa. E aqui entre nós: são acasos a mais...
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