Se há coisa que surge completamente a despropósito nestas ocasiões extremas, são estas operações de promoção e relações públicas, em que as empresas privadas de saúde se aproveitam da ocasião para, tomando a atitude que só se poderia esperar delas, fazer alarde de um gesto que elas teriam grande dificuldade em explicar-se, se o fizessem contrário. Neste exemplo acima, vale a pena adiantar que as letras pequeninas da notícia esclarecem o que está omisso nos títulos: claro que é o Estado que vai suportar os custos da disponibilidade dos hospitais privados.
Com pandemia, mas mesmo muito antes dela e invertendo o sentido do título da notícia acima também podemos escrever: os hospitais públicos têm de estar sempre disponíveis para receber os doentes que são transferidos dos hospitais privados. As razões para essas transferências não costumam ser muito abonatórias para os operadores privados de serviços de saúde, que, com uma frequência antipática, não se dispõem a suportar financeiramente a continuação dos tratamentos desses pacientes que têm de ser transferidos.
Às vezes ponho-me a imaginar o efeito promocional que não teria uma notícia de cabeçalho gordo num jornal a respeito de um paciente oncológico (em tratamento) que teve de ser transferido do hospital X (privado) para o hospital Y (público) porque a seguradora Z não se compromete a suportar o tratamento por não estar contemplado na apólice. Claro que estes acontecimentos não costumam ser noticiados porque há quem trabalhe no hospital X e na seguradora Z para evitar precisamente que isso aconteça. Seja. Mas agora, e atendendo à gravidade da hora e à falta de paciência para com hipocrisias, que esses profissionais estejam quietinhos.
Sem comentários:
Enviar um comentário