31 março 2020

A «SEGUNDA» BATALHA DE TRAFALGAR

31 de Março de 1990. Em Londres, uma marcha de protesto contra a introdução de um novo imposto municipal (conhecido por «poll tax») degenerou numa enorme batalha campal entre os manifestantes e a polícia. Marcada originalmente para ter início na Praça Trafalgar, no centro de Londres, a marcha acabou rapidamente por fugir ao controle dos organizadores, já que o local era manifestamente insuficiente para o número de manifestantes (as estimativas variam dos 70 às 200 mil pessoas). Isso, mas também a delicadeza do problema político da adopção da poll tax, prevista para entrar em vigor no dia seguinte, e que fomentara uma oposição militante, fizeram descambar a ocasião numa gigantesca confrontação entre polícia e manifestantes, como as imagens acima documentam. No final houve 113 feridos entre manifestantes e polícias, e estes últimos detiveram 340 dos primeiros. Alguém, com um forte sentido irónico, denominou os acontecimentos como a «segunda» batalha de Trafalgar. Quando a poll tax entrou em vigor já se produzira o efeito político das imagens televisivas com a desnecessária brutalidade que se vê acima. O impacto parecia sentir-se especialmente entre as classes médias britânicas, as classes que eram consideradas a coluna vertebral do apoio ao governo conservador de Margaret Thatcher. A aplicação do imposto tornou-se uma paródia, tal era o boicote ao seu pagamento - mais de ¼ dos londrinos pura e simplesmente não o haviam pago no prazo em Agosto daquele ano. Mas foi só em Novembro que Margaret Thatcher foi desafiada para a liderança do partido por um competidor marginal (Michael Heseltine). Quando foi brindada com a humilhação de ter que disputar uma segunda volta e renunciou aos cargos. E foi o fim da carreira política de Margaret Thatcher. Uma queda que começara há precisamente 30 anos. E desconfio, por tudo aquilo que ela deixou escrito nas memórias, que nunca terá percebido porquê... As grandezas políticas nunca foram incompatíveis com uma boa dose de obtusidade.

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