25 março 2020

UMA NOTÍCIA DE PRIMEIRA PÁGINA SOBRE A GUERRA EM ANGOLA

25 de Março de 1970. Por uma vez excepcional, acontecimentos relacionados com uma das guerras que se travava em África, no caso a de Angola, merecia o destaque de uma primeira página. Um comunicado especial do comando-chefe da Forças Armadas em Angola, avalizado pela chancela da agência noticiosa oficial ANI, dava conta de um ataque ao aquartelamento de Caripande, no Leste da província, indo ao ponto de o atribuir ao MPLA, e assumindo «muitas baixas» entre as nossas tropas. Convirá explicar que Caripande era um aquartelamento vulnerável àquele tipo de acções, situado na margem esquerda do rio Zambeze e mesmo junto à fronteira com a Zâmbia (veja-se abaixo). Essa circunstância permitia que os atacantes retirassem rapidamente para território zambiano, conseguindo assim evadir-se à retaliação das tropas portuguesas. Por várias vezes o aquartelamento foi atacado precisamente da mesma maneira de que a notícia dá conta, mas os anais da guerra que hoje a contam, dão mais destaque aos ataques que tiveram lugar a 14 de Abril de 1968, em que morreu o comandante dos atacantes do MPLA, sobrinho de Agostinho Neto, e também a 16 de Fevereiro de 1971 que, devido à data e à inspiração de um aquartelado mais sarcástico, veio a ganhar a designação de "Carnaval em Caripande». Nada consta, porém, de importante a respeito desta flagelação de 25 de Março de 1970. Uma possível explicação, maliciosa, para tanta publicidade, poderá deduzir-se da forma como o comunicado está redigido: «...bandoleiros, provavelmente do chamado MPLA, acolitados naquele país vizinho, pelos menos sob as vistas dos respectivos guardas fronteiriços. Seguros da impunidade de que gozam na Zâmbia, efectuaram aquela acção que nos provocou muitas baixas.» Portugal parecia ali estar a municiar-se com um capital de queixa para pressionar depois diplomaticamente os zambianos. Parece plausível. Numa perspectiva de censura, as manobras diplomáticas do governo português até podiam ser notícia de jornal, as operações militares é que não.

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