O estrôncio-90 é um dos isótopos radioactivos desse elemento químico. Tem uma meia vida de 29 anos, estabilizando-se quando se torna em zircónio-90 (o mais comum). Existente em quantidades ínfimas até à era nuclear (1945), a sua presença no ambiente multiplicou-se exponencialmente depois disso, pois é um dos subprodutos da fissão nuclear, que ocorreu tanto quando das detonações do armamento nuclear à superfície, quanto ainda hoje acontece com as centrais de energia nuclear. Em geral, o estrôncio (e este isótopo não foge à regra) tende a mimetizar o comportamento do cálcio (que lhe fica imediatamente acima na tabela periódica) e pode ser por isso absorvido pelo nosso organismo como seu substituto, depositando-se nos ossos ou na medula óssea. Um dos locais onde ele pode mais facilmente ser detectado é na dentição. É por isso um dos elementos mais perigosos quando libertado incontroladamente, tal qual aconteceu com os acidentes nucleares em Chernobyl (1986) e Fukushima (2011). Finalmente, e apenas a título de curiosidade, acrescente-se que a medição da concentração de isótopos com estas características, que apareceram em profusão distinta depois do início da era nuclear há mais de 70 anos, têm servido de instrumento de despistagem quando da validação de antigas obras de pintura: detectar concentrações modernas de estrôncio-90 em pigmentações das tintas empregues num quadro que estivesse a ser atribuído a algum reputado pintor dos séculos anteriores, tornam-se demonstrações inequívocas de que a obra havia sido forjada no século XX.
Este é apenas uma pequena referência ao estrôncio-90. Nas redes sociais não se costuma vê-lo muito referido, nem as opiniões que aparecem são muito assertivas. E não as imagino, às redes sociais, ao rubro (como tantas vezes estão), envolvidas numa discussão sobre a perigosidade comparativa do estrôncio-90 (meia vida de 29 anos) versus a do césio-137 (meia-vida de 30 anos). Ainda bem. Há algum segredo misterioso - ou não tanto - que preserva estes assuntos de serem maltratados por quem nem sabe que não percebe nada deles (por outras palavras, estão protegidos do efeito Dunning-Kruger). Provera que outros assuntos, como as eleições húngaras deste próximo fim de semana, estivessem protegidos assim. Mas desconfio que não estarão.
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