Qual é o país, qual é ele, em que já se tornou uma espécie de tradição ouvir uma enorme vaia ao próprio hino nacional quando das cerimónias preliminares da final da Taça em futebol? A Espanha, pois claro. Para que isso aconteça é só necessário que um dos clubes finalistas seja oriundo de uma das nações que contesta a hegemonia castelhana. Ontem, a cena - baptizada localmente de pitada - tornou-se a repetir por causa dos apoiantes do Barcelona que defrontava o Sevilha, e mesmo apesar do jogo se disputar em Madrid.
Sendo uma tradição antiga, o gesto tem adquirido uma notoriedade crescente nestas últimas décadas, e a sua audição sonora multiplica-se quando a final é disputada por dois grandes clubes que sejam conotados com nacionalidades hostis ao castelhanismo, como é o caso dos frequentes encontros entre o Barcelona (catalão) e o Atlético de Bilbau (basco). Nos últimos dez anos foi assim em 2009 em Valência, tornou a ser assim em 2012 em Madrid (são notórios os esforços da realização da TVE em abafar o som ambiente e o da organização em abreviar o momento, executando a versão curta do hino) e chegou a ser épico em 2015 quando a final da Taça se realizou em território hostil, em Barcelona.
Relativizando o fenómeno e encarando-o de forma optimista, ontem só houve lugar a uma meia-vaiadela. Especulo (e apenas isso) se aquelas mesmas pessoas vaiariam o hino com igual fervor se fosse a selecção espanhola a jogar. De toda a forma, e que conheça, actualmente é o único país da Europa em que tal fenómeno - vaiar ostensivamente o próprio hino nacional - ocorre com esta amplitude. E é caricato ver Madrid pretender que Espanha não tem problemas de identidade nacional.
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