13 abril 2018

O ANÚNCIO DA DESCOBERTA DAS VALAS COMUNS DE KATYN

13 de Abril de 1943. A radio alemã anuncia que a Wehrmacht havia encontrado e exumado cerca de 4.500 cadáveres que estavam enterrados em valas comuns na floresta de Katyn, situada a 20 km a ocidente da cidade russa de Smolensk. Os cadáveres haviam sido identificados como pertencentes a oficiais polacos que haviam sido presumivelmente capturados pelos soviéticos em Setembro de 1939 e executados pelo NKVD entre essa data e a invasão alemã de Junho de 1941. Uma parte dos factos, mas não a sua verdadeira dimensão (no final, virão a ser contabilizados 22.000 cadáveres), já eram conhecidos dos alemães desde que ali haviam chegado no Verão de 1941. Mas foram as vicissitudes da guerra e as necessidades da propaganda alemã que haviam levado Joseph Goebbels a recuperar o tema e popularizá-lo, tendo em vista dois objectivos: na frente interna alemã e pela lógica da própria propaganda nazi, ao atribuir a autoria dos massacres ao judaísmo-bolchevizante, procurava estimular a resistência alemã (era uma incongruência menor que, uma minoria dos executados, como de resto a população polaca em geral, fosse ela própria judia...); na frente externa, pretendia cavar uma cunha entre a coligação que combatia a Alemanha, espicaçando as autoridades polacas no exílio contra os soviéticos, mas sobretudo perturbando as simpatias das opiniões públicas anglo-saxónicas contra os aliados soviéticos. A reacção das autoridades britânicas e norte americanas teve tanto de pragmático quanto de amoral: pela duração da guerra e mesmo muito depois disso, e mesmo sabendo a verdade, fingiram acreditar nas explicações soviéticas, que atribuíam a autoria das execuções aos alemães, que até as haviam revelado. De tudo o que Goebbels engendrara há 75 anos, a partir de 1945, só restava uma inquebrantável má vontade dos polacos em geral para com os russos e um terrível mal-estar das autoridades comunistas polacas e russas num esforço contínuo em abafar o acontecimento.

O que nos leva a uma segunda parte deste assunto, à vontade da comunidade polaca que permaneceu no exílio britânico depois da Segunda Guerra Mundial, em erigir um monumento na Grã Bretanha que fosse dedicado a este Massacre de Katyn, na impossibilidade de o fazer apropriadamente em solo pátrio. A causa pareceria cada vez mais límpida, à luz do que se ia progressivamente sabendo sobre a verdadeira autoria do massacre, mas os entraves que os sucessivos governos britânicos foram sucessivamente colocando à iniciativa, por causa das pressões soviéticas, levaram a que o obelisco abaixo, que se situa no cemitério de Gunnersbury no centro de Londres, tivesse sido inaugurado somente em Setembro de 1976, ou seja, 37 anos depois do início da Segunda Guerra Mundial e, mesmo assim, sem a sanção da presença a título oficial de qualquer autoridade britânica. Vem isto muito a propósito do recente episódio do contencioso diplomático entre o Reino Unido e a Rússia e da cadeia de solidariedades que se formou à volta do governo britânico. Alguns comentários que se ouviram por aí eram críticos da decisão do governo português, mas muito superficialmente fundamentados na argumentação em prol de uma atitude diferente da assumida. Não se teria perdido nada se, para olhando para além da traulitada política, quem invocou argumentos como falta de solidariedade, soubesse como é que os britânicos facilmente a descartam, quando isso lhes convém.

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