28 de Abril de 1918. O regime da Junta Revolucionária, que se impusera militarmente num golpe de força em 8 de Dezembro do ano anterior, procura agora legitimar-se eleitoralmente, convocando uma jornada de eleições, simultaneamente presidenciais e legislativas. Às primeiras, Sidónio Pais, a personalidade de proa do regime, apresenta-se sozinho a sufrágio, enquanto as segundas são boicotadas pelas tradicionais formações republicanas, os democráticos, os evolucionistas e os unionistas. Como consequência, para além da eleição de Sidónio Pais, os nacionalistas, o novo partido do regime, obteve uma maioria para além do que seria decoroso, ocupando 70% (108 em 155) dos lugares do novo parlamento. A oposição na nova Câmara era constituída maioritariamente pelos monárquicos (24% - 37 deputados). Era assim óbvio que, por boicote e falta de comparência de uma importante parte dos actores, a disputa política sob o novo regime não se iria travar no hemiciclo de São Bento - onde acima vemos Sidónio Pais, alguns dias depois (9 de Maio), a tomar posse do cargo de Presidente da República. O irónico desta história é que, embora conviesse à oposição de então e a uma certa historiografia posterior sugerir que a afluência às urnas nestas eleições de há cem anos fora afectada pelo boicote, os números oficiais, 471.000 votos favoráveis a Sidónio em 514.000 votantes, não mostram qualquer diminuição significativa - muito pelo contrário! - no número de eleitores. Comparando as eleições legislativas que tiveram lugar simultaneamente, se em 1918 votaram 324.000 eleitores, nas eleições precedentes de 1915, apenas 282.000 o haviam feito.
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