14 de Setembro de 1979. No Afeganistão, o primeiro dirigente progressista da sua história era derrubado. Como já foi evocado aqui no blogue, depois do golpe de estado de Abril de 1978, o Afeganistão deixara de ser um país neutral e remoto para passar a ser um país bem quisto pelo bloco comunista. E isso incluía a simpatia dos comunistas domésticos, incluindo naturalmente a comunicação social que lhe era afecta. Contudo, após 17 meses de revolução, o partido comunista afegão ainda não incorporara os princípios leninistas avançados do centralismo democrático e o partido apresentava-se dilacerado entre duas facções. No quadro desses conflitos internos, há precisamente 39 anos, desencadeava-se um novo pronunciamento militar em Cabul, depondo o presidente Taraki, substituído por um novo homem forte, o seu rival Hafizullah Amin. O que era engraçado - se alguma graça a situação tinha... - era assistir ao desconforto da imprensa comunista ao descrever uma situação político-militar para a qual ainda não havia doutrina explicativa. Os golpes de estado e os pronunciamentos militares eram fenómenos típicos de países incipientes como os de África ou então das ditaduras militares empedernidas da América Latina. Mas isso eram defeitos dos países capitalistas, não era para acontecer em países que se reclamavam estar a viver uma revolução socialista. Aí o partido seria soberano, não os militares. Simbólico da atrapalhação ou do carácter remoto do país socialista, a notícia demorou três dias (a notícia acima foi publicada dia 17) a aparecer no Diário de Lisboa. E mesmo assim eivada de suposições. Hoje sabe-se que os acontecimentos não se distinguiram muito de um ajuste de contas entre famílias mafiosas, só que envolvendo blindados T-54. O que acontecera a Taraki era então uma incógnita: teve o destino de qualquer dirigente comunista caído em desgraça durante o estalinismo. Mas a história do Afeganistão estava muito longe de estar toda contada, abalando as ortodoxias.
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