23 setembro 2018

O TERRITÓRIO DE MORESNET

23 de Setembro de 1818. As autoridades dos reinos dos Países Baixos e da Prússia procedem à delimitação precisa do pequeníssimo território de Moresnet. Tratava-se do corolário e do subproduto bizarro do gigantesco processo do retraçar das fronteiras da Europa que tivera lugar no Congresso de Viena em 1815, após o fim das Guerra Napoleónicas. Por toda a Europa, as fronteiras que haviam sido redesenhadas continuamente durante vinte anos, à mercê do sucesso das armas napoleónicas, mas a partir de 1815 iriam receber uma configuração que, em grande medida, se iria perpetuar por um século, até 1918. Apesar da pequenez de Moresnet, com uma área total de 3,5 km², aquele pequeno território de formato vagamente triangular a 8 Km a Sudoeste de Aachen (assinalado a vermelho no mapa acima), havia despertado o interesse dos dois países por causa da mina de zinco que ali se localizava. As pretensões sobre a mina haviam levado a que se tivesse de encontrar uma solução criativa, neutralizando o território. Ele seria administrado conjuntamente pelos dois países, embora não pertencendo a nenhum. Há precisamente duzentos anos, a comissão conjunta dos dois países terminava os seus trabalhos de delimitação do polígono, configuração que ficava assegurada pela afixação de 60 marcos no terreno.
Nem de propósito, e para tornar mais complexa um traçado de fronteiras heterodoxo, uma dúzia de anos depois, as províncias do Sul do reino dos Países Baixos tornaram-se independentes sob o nome de Bélgica (1830). O traçado de fronteiras entre os dois novos países (Bélgica e Países Baixos) fazia com que a Bélgica passasse a ser o país adjacente ao território de Moresnet e que assim a relação de administração conjunta que existia com a Prússia fosse transferida dos Países Baixos para a Bélgica. Mesmo assim, o vértice norte do território, passava a constituir o local onde se concentrava a nova fronteira entre os três países (a Alemanha, que sucedeu à Prússia em 1871, a Bélgica e os Países Baixos, foto acima e mapa abaixo). Por causa da mina e sobretudo à conta dela, a economia do território prosperou ao longo de quase todo o século XIX: a população daqueles 344 hectares, que era apenas de 256 pessoas em 1815, dobrara para 500 em 1830, quintuplicara para 2.570 em 1858 e era de 4.670 em 1914, no ano em que começou a Primeira Guerra Mundial. Destes últimos, apenas 484 (ou seja 10% do total) é que descendiam daquela que fora a população original do território.
Contudo, desde 1885, que aquela que fora a mais importante mina de zinco da Europa se esgotara. E a sustentação económica do território tivera que ser repensada. Houve algumas tentativas nesse sentido, nomeadamente a abertura de um casino que as autoridades alemãs bloquearam. A proposta mais interessante foi a do aproveitamento do território (bandeira abaixo) para que ele se tornasse o primeiro estado do Mundo que tivesse o esperanto como sua língua oficial (o esperanto é um idioma artificial aparecido nos finais do século XIX cujo criador e promotores esperavam que se tornasse na língua franca). A ideia não teve grande prosseguimento. Menos visionários e mais pragmáticos, os alemães aproveitaram a invasão da Bélgica em 1914 para anexaram formalmente o território de Moresnet no ano seguinte. E na revanche, os belgas receberam-no conjuntamente com os cantões do Leste, como compensações territoriais no quadro do Tratado de Versalhes (1919). Actualmente, as terras do antigo território - já só resta uma sobrevivente centenária do período em que ele existiu - fazem parte da região belga de língua alemã. E assinale-se que a página em português da wikipedia sobre o assunto vale a visita.

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