20 setembro 2018

O ATAQUE DOS HUSSARDOS A NAZARÉ

«Cerca das 05H30 da manhã de 20 de Setembro de 1918, os Hussardos de Gloucestershire, a guarda avançada da 13ª brigada da 5ª divisão de Cavalaria cavalgou os quilómetros finais da estrada de El Afule e reagrupou-se na crista dos montes que rodeavam Nazaré.
Cidade modernizada, com 15.000 habitantes, Nazaré localiza-se no fundo de um vale fértil de forma circular pontificado por olivais e searas. Os montes à volta erguem-se de forma tão abrupta que, à distância, as açoteias das casas parecem, em alguns locais, serem degraus de escadas. Fora Nazaré que o general Otto Liman von Sanders, o alemão que comandava os exércitos turcos na Palestina, escolhera para instalar o seu Quartel General.
À medida que o Sol subia nos céus aquecendo o dia, os hussardos a cavalo trotaram aceleradamente para o centro da cidade, onde acabaram por chegar às 06H30, à procura de von Sanders, com a esperança de o capturar. O inimigo, ainda adormecido, nem os suspeitava ali, e foi completamente apanhado de surpresa.
Os cavaleiros tinham permanecido em sela, durante as últimas 24 horas, descontando os períodos de repouso e dar de beber aos animais. Mas a oportunidade que se lhes apresentava era suficientemente boa para lhes mobilizar as últimas forças.
Apesar da vantagem da surpresa, o combate de rua que se iria desenrolar não costuma ser vantajoso para as tropas montadas. Mas os homens de Gloucester estavam equipados com espadas para além das versões curtas de cavalaria da espingarda Lee-Enfield, arma de outras épocas mas que, tanto eles quanto a cavalaria australiana, haviam copiado dos lanceiros indianos quando os viram a usá-las.
Os serventes das metralhadoras dispostas nas varandas e açoteias começaram a abrir fogo enquanto os soldados turcos e alemães oriundos, na sua grande maioria, das unidades de retaguarda e de serviços, acordavam com os tiros e ripostavam com o armamento que tinham à mão a partir das janelas. O combate rapidamente se tornou uma confusão, sem uma frente definida.
Soldados que estavam aboletados no Mosteiro Latino (5) rapidamente se começaram a render e por toda a cidade os assaltantes iam reunindo os prisioneiros, muitos deles ainda de pijama.
Mais acima, a rua principal de Nazaré estava engarrafada com uma coluna de camiões alemães (2) cujos condutores queriam desesperadamente inverter a marcha para fugirem pelo saída do Norte, que os britânicos ainda não haviam selado.
Os homens de Gloucester esquadrinhavam a cidade à procura de von Sanders, mas sem se aperceberem que Casa Nuovo (1), um antigo hospício, era o seu Quartel General. Mal o ataque começara, o general Sanders, apesar de estar ainda em pijama, fugira no seu carro rua acima, passando pela mesquita (3), para apanhar a estrada de montanha que o conduzisse para Tiberíades (4).
Cerca das 08H30, outras unidades da 13ª brigada juntaram-se aos hussardos. Mas o cansaço e a falta de efectivos fez com que os atacantes não dispusessem dos meios necessários para controlar a cidade e guardar simultaneamente os 1.500 prisioneiros que fizera. A meio da manhã, retiraram, levando os prisioneiros consigo.
Haviam apreendido variadíssimos documentos importantes mas havia-lhes escapado a importância de Casa Nuovo. Documentação muito mais importante veio posteriormente a ser recuperada e queimada pelos turcos.
A acção custara 13 baixas aos Hussardos de Gloucestershire e 28 cavalos haviam sido abatidos. Uma outra unidade da brigada reocupou a cidade, dessa vez permanentemente, no dia seguinte.»
 
O número quase insignificante de baixas britânicas (13), ainda para mais incorridas num Teatro de Operações periférico (a Frente da Palestina), mostra-nos a pequeníssima importância que terá tido esta acção no contexto global da Primeira Guerra Mundial. A importância em a publicitar deve-se ao facto de ter tido por protagonista uma unidade de cavalaria. Em Setembro de 1918, a Primeira Guerra Mundial já contava quatro anos, mas as características da guerra de trincheiras haviam feito que a arma de cavalaria tivesse praticamente desaparecido dos relatos de guerra. Como forma de compensação, e porque o comandante britânico, o general Edmund Allenby, era um cavaleiro, qualquer acção em que a utilidade da cavalaria pudesse ser invocada (neste caso era a superior mobilidade das tropas montadas que haviam permitido surpreender o inimigo), era saudada com a exuberância desmesurada que a descrição acima mostra. Na verdade, a cavalo e antes da motorização, o ritmo da guerra processava-se ainda a um ritmo que hoje nos faria sorrir: o general von Sanders fugiu para uma povoação que ficava a uns meros 30 km de Nazaré. E considerava-se em segurança aí...

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