Nas páginas do Diário de Lisboa de 26 e 27 de Setembro de 1988 travava-se uma polémica entre os deputados José Magalhães (comunista) e José Pacheco Pereira (social-democrata). Vivia-se então sob o cavaquismo e sob a maioria esmagadoramente absoluta do PSD, mas algo terá a polémica revelado em relação às personalidades dos dois intervenientes que despertou o interesse dos promotores da (então embrionária) informação-espectáculo - nomeadamente Emídio Rangel e a «sua» TSF. Menos de dois anos depois, podemos ouvi-los aos dois nessa rádio, e com o mesmo Rangel como anfitrião, a contracenarem com o perpetuamente chique Vasco Pulido Valente num programa de comentário político denominado «Flashback». Quis a ironia que os dois sustentassem e robustecem o prestígio do programa, apesar do abandono daquele - Vasco Pulido Valente - que fora claramente o pensado por Rangel para ser a sua estrela. Simultaneamente, José Magalhães respeitabilizara-se, transferindo-se dos comunistas para os socialistas (1990-91) enquanto o Muro se desmoronava. Melhor sob o cavaquismo, pior sob Guterres (Magalhães era muito mais dogmático e canhestro do que Pacheco Pereira a defender o «seu» governo), o programa perpetuou-se ao longo de mais de uma década na TSF. Depois foi ressuscitado em formato televisivo com o nome de «Quadratura do Circulo» na SIC em 2004 onde se mantém catorze anos depois. O único membro original que permanece é José Pacheco Pereira, que acabou por se tornar na estrela que teria sido - mas não foi - Vasco Pulido Valente. Já aqui escrevi no blogue que o comportamento de José Pacheco Pereira no programa me faz lembrar o Garfield - hirsuto, mal disposto, cor de laranja... mas fofinho. A subsistência de José Pacheco Pereira na ribalta mediática nestes últimos 30 anos tem sido uma demonstração continuada de que se pode ter uma carreira política independente dos partidos - desde que não se ambicione desempenhar funções executivas... E uma demonstração também que há muitos por aí com um percurso semelhante a que falta a sinceridade de, nos momentos cruciais (as eleições) assumirem onde votam, e fora deles, confessarem ao que vêm.
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