António Guterres só estará a dar mostras, mais uma vez, da sua proverbial inteligência, se se confirmarem as notícias de que irá preterir a sua putativa candidatura à presidência da República em favor de uma outra, alternativa, ao cargo de secretário-geral da ONU. Para além de considerações de visibilidade e de prestígio, a sua candidatura nacional é arriscada, envolve uma votação popular e a campanha pode tornar-se sórdida, veja-se o exemplo do último secretário-geral da ONU de origem europeia, o austríaco Kurt Waldheim (1972-1981), que exerceu dois mandatos impolutos à frente da ONU para se vir sujar, com a descoberta(?) de um passado controverso durante a Segunda Guerra Mundial, quando posteriormente se decidiu a candidatar à presidência do seu próprio país em 1986. Mais do que provavelmente Guterres não terá esse género de cadáveres no armário, mas a sua disposição deve ser pouca para que os seus adversários políticos lhe relembrem em campanha a sua reputada incapacidade de decisão, um balanço que possam fazer das consequências dos seus anos de governação (1995-2001) ou escalpelizar a forma inesperada como se ele demitiu em Dezembro de 2001. Às batalhas internas na ONU imagino-as igualmente sórdidas, mas mais discretas.
Sem comentários:
Enviar um comentário