14 novembro 2014

SOBRE O QUE DEVIA SER A VERTICALIDADE DE ALGUMAS DAS NOSSAS CONVICÇÕES

Estou a imaginar algumas habilidades argumentativas a querer criar-nos a ilusão de que estas duas fotografias poderiam ser igualmente válidas. É uma questão de tomarmos por referência o edifício ou os automóveis. Para embarcar na ilusão, contudo, há que contar simultaneamente com o engenho de quem argumenta mas também com a ignorância senão mesmo com a estupidez de quem se pode deixar embarcar por aquela. São circunstâncias em que a distinção se faz entre quem consegue raciocinar para além da informação que aparece disponível – o edifício foi edificado recorrendo a fios-de-prumo para definir a correcta elevação das paredes enquanto os automóveis não, apenas se ajustam ao relevo onde estão estacionados. Creio que há convicções que se devem possuir como fios-de-prumo: que o objecto último da actividade política tem de ser o bem-estar e a persuasão dos cidadãos e não o aprimoramento continuado da eficácia e da rentabilidade das estruturas económicas, como nos propõem as modernas teorias liberais dominantes em vigor; ou então que as estruturas sociais precisam necessariamente de possuir mecanismos internos de debate e renovação senão acabam por anquilosar e colapsar, como nos propuseram as vetustas teorias comunistas com os resultados que se sabe. Num e noutro caso a caminho de distopias. Ou para aquelas sociedades super-eficientes, com empresas cada vez mais rentáveis mas habitadas por multidões cada vez mais miseráveis no primeiro caso, ou então para sociedades deficientes, habitadas por multidões saciadas segundo um modelo de felicidade sobre o qual não tinham qualquer hipótese de se pronunciar, no segundo caso. É preferível avaliar os automóveis em primeiro plano pelo que são, apesar da cobertura mediática normalmente lhes dar mais destaque, e não nos esquecermos de olhar sempre para a inclinação do edifício.

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