Estaria eu muito longe de pensar que, depois de já há uns valentes anos (2006), ter comparado aqui neste Herdeiro de Aécio Xanana com Chalana, por causa da proeminência das respectivas esposas na imagem pública de ambos, voltaria a associar o paladino da resistência timorense com outra imagem castiça do futebol nacional: a do presidente de clube que não se conforma com os poderes situados para além da sua alçada. À acreditar nas notícias entretanto disponibilizadas, o que provocou a inesperada expulsão de oito funcionários judiciais (sete portugueses e um cabo-verdiano) de Timor-Leste terá sido o desagrado dos poderes executivo e legislativo timorenses a sentenças exaradas por eles enquanto elementos do poder judicial. Ao ouvir-se a explicação de Xanana Gusmão abaixo, de imediato ela faz-nos lembrar aquela atitude contrariada de um Pinto da Costa, de um Luís Filipe Vieira, de um Bruno de Carvalho, imediatamente depois de uma derrota num clássico do futebol português,...
...justificando-a aos adeptos, alegando que a culpa foi da arbitragem e quanto é preciso denunciá-lo¹. Também aqui a justificação será que as sentenças tinham sido lesivas do Estado timorense e...esqueça-se lá a separação de poderes, que o objectivo de todo o presidente de clube de futebol é controlar o conselho de arbitragem para que só sejam nomeados os árbitros que ele considere benignos. Analogamente, em Timor, o sistema judicial que Xanana deseja será aquele onde só se proferem sentenças favoráveis ao Estado. Só que não tenho a certeza se Xanana compreende a diferença entre dirigir o Sport Clube de Timor e a República Democrática de Timor, estrutura que sai de todo este episódio a merecer tudo menos o epiteto de democrática. Por cá, só se aceitará a tolerância à mesma prática, se se considerar que, por se tratar de futebol, nada daquilo é para ser levado a sério...
¹ Luís Filipe Vieira merece uma nota de destaque nesses desabafos, pois só ele conseguiu proscrever um árbitro (Pedro Proença) que nove meses depois veio a ser eleito como o melhor do mundo numa eleição de uma organização internacional onde dificilmente se poderiam ter feito sentir as influências dos seus inimigos domésticos. Naturalmente, este é o género de palermice tão crassa que até escapa ao director do jornal do próprio clube comentá-la no canal do mesmo - é aquela coisa de não se conseguir ver o argueiro no próprio olho...
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