Esta fotografia já tem mais de vinte cinco anos, insere-se no quadro dos conflitos da Guerra-Fria, mas permanece tão irónica como no dia em que foi tirada. Ao fundo, pode ler-se num letreiro desfocado a proclamação SUL-AFRICANOS NENHUM PALMO DA NOSSA TERRA. Em contraste, os soldados que se vêem em primeiro plano e que corporizarão tanta determinação são cubanos, expedicionários numa Angola dilacerada por uma guerra civil e ali destacados para que a República Popular de Angola subsista e a bravata que se lê em fundo pudesse ter alguma consequência. Já aqui o escrevi mas nunca é de mais repetir: o esforço em meios humanos empenhados por Cuba em Angola nos catorze anos de 1975 a 1989 equivale-se aos meios empenhados por Portugal nos catorze anos precedentes (1961-75). Deram-lhes foi designações diferentes: a mais antiga revestia-se de um sentido maligno - colonialismo - mas a outra pretendia passar por benigna - internacionalismo proletário. Palavras bonitas de parte, reconheça-se que o enriquecimento (ilícito) das elites angolanas só começou depois da saída dos cubanos de Angola, porque nesses primeiros anos de guerra uma substancial parcela das receitas da exploração petrolífera acabavam em Moscovo (o material) ou em Havana (os homens).
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