Incomoda-me o significado das manifestações de carácter antidemocrático que a recente eleição de Dilma Roussef estará a suscitar entre aqueles que se consideraram derrotados nelas. Acho que felizmente são mais um fenómeno mediático do que substantivo: as manifestações não parecem maciças. Mas também não quero deixar de assinalar o zelo noticioso como têm sido acompanhadas: o número de manifestantes passou a constar metodicamente das notícias que nos chegam do Brasil (uns parcos 3.000 num caso, uns ridículos 30 noutro, numa prática que se saúda e que se deseja que prossiga¹), para mais quando acompanhadas de fotografias que nos ajudam a antipatizar com os manifestantes. Caso desta dupla abaixo que exibe um cartaz apelando a uma intervenção militar neste ano em que o Brasil celebra as bodas de ouro de outra (1964).
A direita tem (sempre teve) os seus órgãos de comunicação social a protegê-la no que faz, mas não se pode deixar de registar, entre uma espécie de pensamento editorial dominante, este desconforto noticioso quando é a direita a usar as ruas. Parece haver um acordo tácito que esse é um local reservado às manifestações da esquerda, onde a direita é uma intrusa e a memória dos seus actos propositadamente curta. À laia de exemplo, podia voltar a referir-me ao carinho que é dispensado em França às iniciativas de Jean-Luc Mélenchon mas, sendo a origem desta reflexão o Brasil, queria continuar no mesmo continente recordando que as ruidosas manifestações de donas de casa batendo caçarolas, que vieram a ganhar o nome de cacerolazos, tiveram inicialmente lugar no Chile em 1971, em protestos contra o governo de esquerda do agora intocável Salvador Allende...
¹ Alguém tem presente, por exemplo, quantas vezes se noticia quantos compõem aquele circo que costuma acompanhar Mário Nogueira país fora, uma hora à frente da comitiva do ministro da Educação que então estiver no cargo, e que lhe fazem sempre o tradicional comité de recepção trauteando o conhecido sucesso musical Está na hora, está na hora, de o .....(preencher com o nome respectivo) ir embora ?
Está morrendo brasileiro a granel e vem reclamar de cartazes de pessoas pedindo a volta dos militares?
ResponderEliminarEm anos a primeira manifestação de "direita" e você acha algo terrível, enquanto só existiam durante esses anos manifestações esquerdistas.
ps:Fala dos movimentos sociais financiados pelo PT. Como o MST e entre outros que invadem terras, matam e estrupam e toda mídia passa mão neles.
Eu chego a desconfiar que existe por aí um teste de inteligência prévio a quem se dispuser a comentar blogue. E quem tiver um QI maior do que 90 é imediatamente impedido de comentar.
ResponderEliminarVocê não percebeu nada do que eu escrevi, pois não? Eu bem sei que fiz referências à política francesa, chilena e portuguesa e isso deve estar muito para além daquilo que consegue alcançar.
Mas você comenta as minhas palavras, que foram escritas em Novembro de 2014 (está escrito logo ao princípio), mal a Dilma acabara de tomar posse depois de reeleita numas eleições democráticas, como se elas tivessem sido hoje. Mas não foram.
Aqueles palermas que aparecem nas fotografias haviam acabado de perder as eleições nas urnas e já estavam a reclamar, como se as eleições só fossem boas quando se ganham. Ora isso não é política, é futebol: Viva o Vasco!