20 novembro 2014

OS «BESTSELLERS» DE OUTONO DE UMA FRANÇA COSCUVILHEIRA E IRRITADA

A França assistiu este Outono à eclosão de dois bestsellers inconvenientes. Primeiro, em princípios de Setembro foi o lançamento do de Valérie Trierweiler, Merci pour ce Moment, aquilo que a ex-companheira do presidente Hollande terá para contar sobre a sua vida em comum e mais o processo de separação. Houve quem encomendasse sondagens que mostraram a existência de uma maioria que desaprovava a publicação do livro mas a minoria mostrou-se indiferentemente coscuvilheira: só nos primeiros quinze dias após o lançamento venderam-se mais de 400.000 exemplares, hoje essa marca está em muito ultrapassada, hoje escreve-se que Valérie Trierweiler se tornou milionária à conta do livro. A seguir, em princípios de Outubro, foi o lançamento de Le Suicide français, um ensaio de um jornalista de ascendência argelina e judaica, conhecido pelas suas opiniões controversas próximas da extrema-direita, chamado Éric Zemmour. Sobre o conteúdo deste não se fizeram sondagens, mas tornou-se evidente – sobretudo pela recepção mediática – quanto ele chocou contra o establishment político-cultural francês, ao qual deixará, de resto, violentas críticas. E, sendo a outra cusca, há no caso deste livro uma outra minoria (que neste caso não se sabe se é a mesma e se é mesmo minoritária) que adora ver as elites francesas a serem descascadas pela forma como terão conduzido a França nos últimos 40 anos. Contudo, ao contrário do que aconteceu com o bestseller precedente, o ritmo das vendas deste terá vindo a progredir em crescendo, desde os 5.000 exemplares diários dos primeiros dias até aos 17.000 exemplares de finais de Outubro. A meta das vendas de Le Suicide francais já se situa em igualar senão mesmo ultrapassar Merci pour ce Moment. Tudo isto não passará de mera curiosidade editorial se no futuro próximo nada de significativo ocorrer em França. No caso improvável de algo ocorrer, como uma eclosão de nacionalismo antieuropeu, estes dois livros até poderão vir a ser encaixados na História como exemplos premonitórios da vontade dos franceses, como cá se fez com Portugal e o Futuro, por ter sido publicado dois meses antes do 25 de Abril.

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