07 outubro 2008

A CRISE

Perante a pergunta se a actual crise financeira é como a de 1929, a resposta honesta só pode ser um redondo é e não é. Como os vírus que causaram as grandes epidemias do passado (acima o H1N1 da gripe espanhola de 1918), cada grande crise financeira acaba por desencadear os seus mecanismos de defesa entre as autoridades encarregadas da vigilância e da regulação. Cientificamente, a próxima crise financeira sofrerá sempre uma mutação genética em relação às anteriores. Mas para os leigos que as sofrem, os sintomas das gripes e das crises financeiras acabam por se parecerem entre si…
Não deixa de ser um privilégio pertencer a uma geração que se arrisca a assistir a duas quedas de Muro (acima) ideológicas, espaçadas por menos de 20 anos. De nada serviu alertar os intelectuais daquele grupo etário que hoje se situa entre os 30 e os 40 anos para que se dedicassem ao estudo da História, que o Mundo não começara depois deles se tornarem adultos… Só agora, como qualquer cobaia de laboratório educado a choques eléctricos, é que eles se poderão aperceber como o Mercado e os seus maravilhosos mecanismos de ajustamento podem não conter nenhuma solução aceitável para esta crise…
Claro que aqui na blogosfera decerto restarão alguns indefectíveis*, assim como ainda hoje há indefectíveis pós-Muro. Mas suspeito que o papel da influência ideológica do liberalismo tenha terminado por agora. Assim como Aleksandr Lukashenko (acima), o Presidente da Bielorrússia, não vê qualquer vantagem em invocar a herança do marxismo-leninismo para camuflar o seu regime despótico nos tempos que correm, também os líderes do sistema financeiro continuarão a fazê-lo funcionar, mas dispensando os ideólogos que costumavam cantar hossanas às virtudes de adaptabilidade do seu sistema de funcionamento…
Entre os pragmáticos que são os que detêm, de facto, o poder político e o querem manter, creio que a sua maior preocupação imediata nem sequer é ideológica: como fazer para que as pessoas comuns mantenham a confiança no sistema financeiro? A falência das instituições bancárias não parece uma opção aceitável para os regimes vigentes. Afinal, é geralmente considerado que foi a destruição dessa confiança, provocada pela hiper-inflação alemã da década de 1920 (acima), que estará na base da adesão das classes médias alemãs (com os seus rendimentos e poupanças totalmente destruídas pela inflação) ao nazismo.
Ninguém arriscará prever quais seriam os contornos do discurso radical anti-regime que poderá crescer em consequência da desestabilização séria na sociedade provocada pelo desaparecimento das pensões e das poupanças – o fundamentalismo ecológico de regresso às raízes, por exemplo, é uma boa aposta… – mas creio que existirá um consenso entre os protagonistas políticos actuais dos países ricos que será melhor atalhar o aparecimento desses radicalismos logo na origem… Os perigos das consequências desta crise não vêm daquilo que se quer fazer para a solucionar, antes da capacidade de o conseguirem fazer…

* Lá virá o tempo em que será chique ter-se sido neoliberal, como hoje têm uma certa patine aqueles que foram maoistas na juventude.

5 comentários:

  1. A propósito da nota de roda pé: E não serão os mesmos, quero dizer alguns?!...

    ResponderEliminar
  2. É possível que haja alguns nomes que venham a acumular os dois predicados de ex, mas certifique-se, JRD, se não haverá alguns em que possa estar a pensar que, sendo radicais, não foram maoistas...

    ResponderEliminar
  3. Sim, há os que foram só estalinistas, social-democratas,etc.

    ResponderEliminar