18 outubro 2008

A BOLA DE SABÃO DOS MARES DO SUL

Aquilo que ficou conhecido por South Sea Bubble (a Bola de Sabão dos Mares do Sul) começou em 1711, quando uma Companhia dos Mares do Sul foi fundada a quem o governo britânico atribuiu o monopólio do comércio com todas as possessões espanholas da América. À data da sua fundação essa concessão tinha muito pouco significado prático porque a Inglaterra e a Espanha encontravam-se numa guerra (Guerra de Sucessão de Espanha) que só viria a terminar em 1713.

Desde os feitos de Francis Drake e outros corsários nos finais do Século XVI, com as suas capturas dos galeões espanhóis das Frotas da Prata, que se havia criado entre o inglês comum a impressão que a América Espanhola era uma fonte de incontáveis tesouros (abaixo). Segundo a opinião dominante, uma Companhia que possuísse o monopólio do comércio entre aquelas regiões e a Inglaterra, aparentava ter um enorme potencial de crescimento, e seria um óptimo investimento...
Do ponto de vista estritamente económico a Companhia dos Mares do Sul foi, ganhando os seus lucros, desempenhando com brio a sua actividade principal que, surpreendentemente, nada tinha a ver com o comércio de todos aqueles minerais e pedras preciosas que faziam sonhar os investidores de Londres: tratava-se do prosaico comércio de escravos e a Companhia assegurava (com eficiência) o fornecimento anual de 4800 escravos africanos para serem vendidos na América espanhola.

Mas o problema que veio a tornar a Companhia famosa era financeiro e estava em Londres… Robert Harley, o Conde de Oxford (abaixo), que seria na altura o equivalente de um Ministro das Finanças tentou montar uma operação no estilo que hoje se chamaria por engenharia financeira, fazendo com que a Companhia dos Mares do Sul, cujas acções eram muito apetecidas, aplicasse uma parcela do seu capital a comprar os títulos da dívida pública entretanto emitidos pelo governo inglês para financiar a guerra.
Embora as dívidas públicas então contraídas fossem pequeníssimas em termos tanto absolutos quanto relativos quando em comparação com o que virão a ser as dívidas públicas do futuro, mesmo um leigo de hoje se apercebe que algo poderá vir provavelmente a correr bastante mal quando uma Companhia vocacionada para o comércio gasta a maior parte do seu dinheiro a comprar títulos em vez de o investir na construção de navios e na contratação de tripulações que expandam a sua actividade...

Como de costume, houve quem estivesse bem informado e tivesse realizado lucros de 1000% (como Robert Walpole, que veio a ser Primeiro-Ministro em 1721), mas a estrutura financeira montada pelo Conde de Oxford para sanear as finanças públicas acabou por entrar em colapso e o Governo de Sua Majestade passou por momentos muito desagradáveis… Diga-se, por curiosidade, que o Conde de Oxford foi a primeira pessoa (que eu saiba) a quem enviaram uma encomenda armadilhada: uma caixa de chapéus com um par de pistolas engatilhadas, prontas a disparar à abertura…

2 comentários:

  1. Episódio interessante este. Tal como hoje nem sempre as opções económicas foram as melhores. Então nós, portugueses,a começar no nosso período "áureo" dos descobrimentos, acumulámos muita prática.
    O pormenor final é muito curioso.

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  2. Pelo contrário, as opções financeiras do Conde de Oxford até foram as melhores. Então e hoje, os accionistas é que não podem ser como o Jesus Cristo de Fernando Pessoa, o tal que não percebia nada de finanças nem consta que tivesse biblioteca...

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