Seria engraçado começar por contar aqui a história do Padre Miguel, que era o meu Professor de Canto Coral no Colégio Militar, e infeliz herdeiro de uma alcunha que não era sua (Carioca), mas do seu antecessor, que, talvez pelo seu carisma, transformara aquele epíteto em sinónimo de professor de tais artes musicais. Mas o que é para aqui preciso não é a narrativa dessa história mais vasta, mas apenas a do processo que nos seleccionava para o Orfeão do Colégio Militar.
Se bem me lembro, foi logo no primeiro ano e na primeira aula que o Padre Miguel nos pôs a trautear individualmente o Hino da Eurovisão. No final de um processo muito descontraído, houve uns que foram classificados para cantar na 1ª voz, outros na 2ª voz e outros ainda em voz nenhuma. O que é importante para a continuação desta história é que foi assim que descobri que, para além de ter algum ouvido musical e cantar afinado, também era necessário que se tivesse alguma potência na voz.
E é no quadro dessas pequenas curiosidades sobre música que fui aprendendo ao longo da vida, que gostava de relembrar a misteriosa (e miraculosa) carreira de cantor de Tó Zé Brito que conseguiu atravessar toda a década de 1970 apresentando-se em vários Festivais RTP da Canção, de que dou aqui um exemplo precoce como o de 1972 (acima, com a canção Se Quiseres Ouvir Cantar) e também um exemplo maduro como o de 1979 (abaixo, com a canção Novo Canto Português).
Não sei se estarei à altura de me poder substituir ao Padre Miguel, mas fico com a convicção de que Tó Zé Brito, submetido à mesma audição por que nós passámos, dificilmente conseguiria fazer parte do Orfeão Colegial… É que, se com o que ouvimos do seu desempenho na edição do Festival de 1972 se torna audível que Tó Zé Brito ainda não sabe cantar, na sua participação do Festival de 1979 torna-se patente que ele continua sem aprender… E no entanto, mesmo com a voz esmorecida…
…Tó Zé Brito conseguiu vencer um dos Festivais RTP da Canção (em 1978) integrado no conjunto Gemini, cantando uma canção intitulada Dai-li-Dou (acima), possivelmente a canção mais pateta a ganhar o certame. Os Gemini, eram um conjunto engraçado, onde a juntar à voz de Tó Zé Brito (que não se ouvia), a outra voz masculina era a de Mike Sergeant que não convinha que se ouvisse, por causa do seu sotaque escocês... Lá atrás, no coro, para se ouvir em vez deles e insuspeita de falta de potência na voz, nota-se a presença de Lena d´Água…
Um "poste" sobre os cantores do "post" 25 de Abril, intérpretes do "pós" nacional-cançonetismo e o "pó" de algumas cantigas. Resta o "p" solitário.
ResponderEliminarOra aqui está um post que eu também sei opinar. E, confessa lá que já estavas com saudades das minhas opiniões inteligentes.
ResponderEliminarRealmente o Tó Zé Brito era uma verdadeira desgraça no que diz respeito à potência de voz que não existia. Seguramente que não seria escolhido pelo padre Miguel para o coro do Colégio militar nem por qualquer outro padre, por muito santo que fosse e por muitas boas acções que quisesse praticar, para coro nenhum.
Realmente, ouvida agora, a canção que venceu o festival de 1978, é tão ridícula que é quase um enigma o facto de ter vencido o certame. Terá sido porque a concorrência era ainda pior?
Parece-me deveras improvável embora, na sua generalidade, não primassem pela qualidade.
Donagata, olha que eu sigo atentamente as tuas opiniões, recensões e investigações no teu blogue, por isso já havia tido oportunidade de matar saudades com um episódio de malas extraviadas, 3 - recensões de livros - 3, e uma investigação sobre quelóneos a partir do 11º andar de um navio navegando pelo Mediterrâneo Oriental...
ResponderEliminarAfinal, realmente não tens razões nenhumas para saudades.
ResponderEliminarDeves estar mas é meio enjoado.
Não estou nada meio enjoado!
ResponderEliminarEu até adoro histórias com quelóneos! Olha, como a da lebre e da tartaruga.