02 outubro 2008

A 4ª SECRETÁRIA

O episódio que eu vou contar terá ficado certamente no escaninho da memória daqueles que têm mais de 35 anos e que seguiram atentamente, como todo o país de resto, as peripécias da telenovela Gabriela, baseada no livro homónimo de Jorge Amado (abaixo). A dada altura, por ocasião das eleições para os órgãos dirigentes de uma prestigiada Agremiação qualquer de Ilhéus, apresentaram-se as tradicionais duas listas, a da Situação (dirigida pelo venerando Coronel Ramiro Bastos) e a da Oposição (dirigida pela estrela em ascensão na cidade, o Dr. Mundinho Falcão).
A composição das listas era, naturalmente, completamente distinta, com excepção do discreto lugar de 4º secretário, onde coincidia a escolha das duas facções na pessoa do turco Nacib (abaixo), o proprietário do Bar Vesúvio, patrão e namorado de Gabriela. Nem interessa detalhar a forma como o problema veio a ser solucionado (numa lista única de consenso – está explicado no livro, não tanto na telenovela), o que interessa para aqui realçar foi a forma extremamente lisonjeada como Nacib (que era sírio) acolheu aquela distinção, simbólica do sucesso da sua integração naquela sociedade que o havia acolhido.
Desta história, fiquei para sempre com a expressão 4º Secretário como sinónima de uma nomeação para um cargo de uma importância muito modesta, embora ela traga uma grande satisfação pessoal ao distinguido. O que nos leva a um poste recente de Ana Gomes onde ela saúda entusiasmadamente a nomeação de Catarina Albuquerque para o cargo de Relatora para a Água do Conselho dos Direitos Humanos da ONU! Que bom para ela, para a família, para os amigos!!… E embora a Catarina não tenha culpa de todo o entusiasmo da amiga, eu também não sinto nenhuma por confessar como me lembrei de imediato de Nacib como 4º Secretário

1 comentário:

  1. Nada mau. O último português a trabalhar na ONU de que tive conhecimento, era empregado da limpeza e participou no filme "A Intérprete" de Sidney Pollack.

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