Entretidos com as subidas e descidas bruscas das Bolsas, sintomas da crise mundial, as páginas internacionais da comunicação social têm deixado escapar algumas notícias interessantes acerca dos previsíveis realinhamentos que essa mesma crise pode estar a causar. Uma dessas notícias foi a visita que o Primeiro-Ministro indiano Manmohan Singh efectuou recentemente ao Japão, onde se encontrou com o seu (novato nestas andanças) homólogo nipónico, Taro Aso (na fotografia acima).
E, embora a grande maioria das notícias mais recentes privilegiem habitualmente o aspecto económico e financeiro das relações internacionais, o facto mais relevante daquele encontro nada teve a ver com isso (aliás, as negociações para o estabelecimento de um acordo de comércio bilateral fracassaram…), mas antes com a assinatura de um Pacto de Segurança respeitante, entre outros aspectos, à cooperação militar e naval para a segurança da navegação no Oceano Índico.
Entre os analistas indianos realça-se o facto dos cautelosos japoneses apenas terem firmado pactos comparáveis com os Estados Unidos e a Austrália, as potências que têm sido responsáveis pela segurança, respectivamente, do Pacífico Norte e do Pacífico Sul. Esta assinatura é interpretada por eles como o reconhecimento implícito por parte do Japão do papel predominante que a Índia virá a assumir no Índico, zona crucial por onde transitam a maioria dos recursos energéticos para a sua economia (abaixo).
E, embora a grande maioria das notícias mais recentes privilegiem habitualmente o aspecto económico e financeiro das relações internacionais, o facto mais relevante daquele encontro nada teve a ver com isso (aliás, as negociações para o estabelecimento de um acordo de comércio bilateral fracassaram…), mas antes com a assinatura de um Pacto de Segurança respeitante, entre outros aspectos, à cooperação militar e naval para a segurança da navegação no Oceano Índico.
Entre os analistas indianos realça-se o facto dos cautelosos japoneses apenas terem firmado pactos comparáveis com os Estados Unidos e a Austrália, as potências que têm sido responsáveis pela segurança, respectivamente, do Pacífico Norte e do Pacífico Sul. Esta assinatura é interpretada por eles como o reconhecimento implícito por parte do Japão do papel predominante que a Índia virá a assumir no Índico, zona crucial por onde transitam a maioria dos recursos energéticos para a sua economia (abaixo).
Claro que estes entendimentos (Índia–Japão–Estados Unidos–Austrália*) fazem lembrar as alianças europeias de há um século atrás, como foi o caso da Triple Entente, onde o papel da Alemanha de então é agora desempenhado pela China. E é evidente que o Primeiro-Ministro Manmohan Singh foi de uma correcção diplomática exemplar para, logo depois de sair de Tóquio, ter passado por Pequim para se encontrar com o Presidente Hu Jintao, a quem terá prestado todas as explicações pertinentes…
Mas depois de ter servido uma em Pequim, chegado a Nova Deli, coube a vez a Manmohan Singh de engolir a sua pílula, ao ver-se forçado a prestar declarações públicas de apoio aos esforços do Paquistão para que ele receba um auxílio financeiro de emergência do FMI. A situação financeira do Paquistão já se mostrava complicada antes do desencadear da crise (o que justifica, à posteriori, o desapego ao poder do General Pervez Musharraf), mas agora parece tornar-se cada vez mais desesperada.
Mas as condições impostas pelo FMI para os quase 3 mil milhões de euros que o Paquistão vai precisar nos próximos 30 dias implicam reformas profundas num país que de há muito se sentiu desobrigado de as fazer, jogando com os interesses norte-americanos e com a sua posição estratégica. O FMI impõe-lhes, entre outras medidas, uma redução em 30% do Orçamento de defesa até 2013, a criação de uma verdadeira máquina fiscal que recolha impostos e o direito de fiscalizar localmente essas medidas…
As Forças Amadas paquistanesas já disseram que não e o problema arrisca-se a desabar em cima da primeira administração civil paquistanesa em muitos anos, a de Asif Ali Zardari (acima). As hipóteses que lhe restam, dadas as condições do FMI e que os Estados Unidos estão, aparentemente, sem dinheiro para mandar cantar um cego, são as de recorrer a um empréstimo dos seus amigos sauditas ou chineses, um par de alternativas que, evidentemente, não são nada do agrado de Manmohan Singh…
* Aqueles 4 países (e Singapura) realizaram exercícios navais no Oceano Índico em Setembro de 2007.
Mas depois de ter servido uma em Pequim, chegado a Nova Deli, coube a vez a Manmohan Singh de engolir a sua pílula, ao ver-se forçado a prestar declarações públicas de apoio aos esforços do Paquistão para que ele receba um auxílio financeiro de emergência do FMI. A situação financeira do Paquistão já se mostrava complicada antes do desencadear da crise (o que justifica, à posteriori, o desapego ao poder do General Pervez Musharraf), mas agora parece tornar-se cada vez mais desesperada.
Mas as condições impostas pelo FMI para os quase 3 mil milhões de euros que o Paquistão vai precisar nos próximos 30 dias implicam reformas profundas num país que de há muito se sentiu desobrigado de as fazer, jogando com os interesses norte-americanos e com a sua posição estratégica. O FMI impõe-lhes, entre outras medidas, uma redução em 30% do Orçamento de defesa até 2013, a criação de uma verdadeira máquina fiscal que recolha impostos e o direito de fiscalizar localmente essas medidas…
As Forças Amadas paquistanesas já disseram que não e o problema arrisca-se a desabar em cima da primeira administração civil paquistanesa em muitos anos, a de Asif Ali Zardari (acima). As hipóteses que lhe restam, dadas as condições do FMI e que os Estados Unidos estão, aparentemente, sem dinheiro para mandar cantar um cego, são as de recorrer a um empréstimo dos seus amigos sauditas ou chineses, um par de alternativas que, evidentemente, não são nada do agrado de Manmohan Singh…
* Aqueles 4 países (e Singapura) realizaram exercícios navais no Oceano Índico em Setembro de 2007.
Até parece que os Estados Unidos estão a principiar a ver passar as tropas e não só, sem entrar na parada.
ResponderEliminarMais um excelente post. A análise estratégica do Pacto de Segurança Índia/Japão parece-me muito pertinente, assim como as considerações adjacentes sobre o relacionamento Índia/China e sobre o Paquistão. Parabéns.
ResponderEliminarLS
Sem comentários pois já nem tenho fôlego para tal depois de pôr as leituras em dia.
ResponderEliminarContudo, como habitualmente, fartei-me de aprender coisas que não sabia e de "reequacionar" outras; vê-las de forma muito mais clara.