20 outubro 2008

1964 – LYNDON JOHNSON v. BARRY GOLDWATER

A campanha eleitoral para a presidência dos Estados Unidos de 1964 constituiu uma das campanhas mais sórdidas que se disputaram desde o início da História dos Estados Unidos. Outras campanhas houve, igualmente sujas mas muito mais publicitadas e conhecidas, nomeadamente a que decorreu em 1972, mais os golpes baixos sobre a concorrência (com o arrombamento da sede de campanha dos democratas no edifício Watergate), cujo conhecimento público acabou por levar à resignação posterior do Presidente Richard Nixon. Mesmo sem arrombamentos, a de 1964, como campanha, não foi muito mais limpa.
Os dois candidatos que se apresentavam eram o Presidente Lyndon Johnson (acima) pelos Democratas, que fora o Vice-Presidente de John Kennedy, e que depois do assassinato deste em Novembro de 1963, viera a assumir a presidência, e o Senador Barry Goldwater pelos Republicanos, um membro eleito pelo Estado do Arizona, da ala mais ultra-conservadora do Partido que alcançara a nomeação na Convenção depois de uma renhida disputa com candidatos da ala mais moderada. Mal se sabia então como as ideias e atitudes de Goldwater iam prosperar e encontrar continuadores em Ronald Reagan, George W. Bush e…. Sarah Palin.

Só que, paradoxalmente, Barry Goldwater (abaixo) é que acabou por se tornar a maior vítima de toda esta história. Em vez da expectável propaganda favorável a Johnson, a campanha dos democratas especializou-se em desacreditar um Goldwater que, pelo seu posicionamento ideológico, não era mais um daqueles políticos convencionais da época. As suas declarações incluíam frases como: Todos os Homens são criados iguais no instante do nascimento… mas a partir daí é o fim da igualdade ou então (referindo-se a ogivas atómicas) Vamos lá a atirar uma para o Kremlin e, já agora, fazer pontaria para a casa de banho dos homens…
Há que reconhecer que a tarefa dos criativos contratados pela campanha de Johnson estava muito facilitada... Assim, ao slogan oficial de campanha de Goldwater, Intimamente, você sabe que ele tem razão (In your heart you know he´s right), os democratas responderam com uma paródia impiedosa, Instintivamente, você sabe que ele é louco (In your gut you know he´s nuts). Mas as últimas palavras guardaram-nas para as dar a Lyndon Johnson: Não se pode deixar que Goldwater e a China comunista consigam a Bomba Atómica* ao mesmo tempo. Aí é que a merda bate mesmo nas pás da ventoinha**.

Se as últimas palavras foram para Lyndon Johnson, o que perdura foram as imagens da campanha negativa então montada, associando Goldwater (cujo pai até era judeu…) ao Ku Klux Klan, entre muitas outras maldades pioneiras da publicidade política negativa em televisão. O mais simbólico – e há quem considere o mais eficaz de sempre – de todos esses anúncios (abaixo) intitula-se A Margarida (Daisy). Podia descrevê-lo, mas acho preferível que quem esteja a ler este poste o veja… Nas eleições, Lyndon Johnson veio a esmagar Barry Goldwater ganhando-lhe com 61% dos votos populares e obtendo a vitória em 44 dos 50 estados.

* A República Popular da China realizou o seu primeiro teste nuclear a 16 de Outubro de 1964, durante a fase mais quente da campanha eleitoral.
** We can’t let Goldwater and the Red China both get the bomb at the same time. Then the shit will really hit the fan.

2 comentários:

  1. Excelente e oportuno poste.

    Os Democratas sabiam que LBJ era fraco, como são quase os políticos que chegam ao poder “à boleia” (lá e cá)e nem uma boa campanha pela positiva, o safava . Assim sendo seria mais eficaz, até porque a conjuntura interna ajudava, arrasar o ultra reaccionário Goldwater, que para azar dele, concorreu cinco mandatos antes do que devia e permitiu que o Cowboy de segunda e “denunciante” de Hollywood , Reagan , esmagasse o bonacheirão do Carter.

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  2. Houve um americano que me disse que o Jimmy Carter foi o pior presidente a ocupar a Casa Branca mas a melhor pessoa...

    Caro jrd,
    Não são raras vezes que os líderes carismáticos como o Reagan são medianos e estão longe do brilhantismo intelectual de alguns que ficam na retaguarda.

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