15 outubro 2008

O "CONDADO" DE RIBEIRA DE PENA

Por ocasião da realização das primeiras eleições autárquicas em 1976, o país foi surpreendido com a vitória eleitoral de uma lista do PPM (Partido Popular Monárquico) no concelho transmontano de Ribeira de Pena. Contudo, os republicanos de rija cepa, como seria o caso do socialista Raul Rego (abaixo) rapidamente descansaram da suspeita que ali pudesse existir o embrião de uma nova Monarquia do Norte.
A explicação para o fenómeno era muito mais prosaica e bastante menos ideológica: houvera uma guerra entre duas facções rivais da secção local do então PPD* durante a constituição das listas autárquicas e a facção derrotada na disputa interna resolvera concorrer autonomamente, tendo para isso pedido emprestada a sigla ao PPM. E revelava-se que a facção que estava em minoria no aparelho era afinal maioritária entre a população…
Se constitucionalmente havia uma proibição formal para que se constituíssem candidaturas independentes às eleições autárquicas, como se vê, desde as primeiras eleições se tornou público que havia um expediente lusitano para contornar tal proibição. Mais tarde e felizmente, esta cláusula constitucional acabou por ser revista, permitindo que a constituição de listas locais se efectuasse sem precisar de adoptar tal expediente…
O que me vim a aperceber, com os casos recentes de Valentim Loureiro em Gondomar, Fátima Felgueiras em Felgueiras, Avelino Ferreira Torres em Amarante, Isaltino de Morais em Oeiras e agora com o de Narciso Miranda em Matosinhos, é como essas candidaturas independentes – teoricamente de fracos contra fortes – acabaram por se deixar cair – devido à reputação dos protagonistas – num prestígio bem mais do que duvidoso
Como se está bem longe da justiça poética do episódio de Ribeira de Pena… Agora, parece que patrocinar-se uma candidatura autárquica independente é quase sinónimo de ser-se um escroque…

* Sigla de Partido Popular Democrático, a designação do PSD durante os seus primeiros 4 anos de existência (1974-78) e que actualmente apenas é empregue na versão PPD/PSD por Pedro Santana Lopes. Faz bem parte da falta de coerência deste último saber-se que o próprio Pedro Santana Lopes nunca foi militante do partido enquanto ele se designava por PPD…

3 comentários:

  1. Disse-se até que, nesse tempo, "andava por aí" pelos lados do mirn.

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  2. O presidente eleito na altura acabou por continuar largos anos na câmara, pela AD e pelo PSD, e hoje está à frente, salvo erro, da assembleia municipal. Aproveitando-se de semelhantes questões PPM conquistou mais duas câmaras, Vagos e Penalva do Castelo (esta última há uns dez anos, ilustrado pela frase "quem está com o governo come, quem não está cheira").

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  3. Creio que a conquista de Vagos em 1979 já decorre do quadro dos acordos autárquicos entre os 3 partidos da AD (PSD, CDS e PPM), em que o PSD "recupera" Ribeira de Pena, mas em que se acorda "ceder" uma Câmara ao PPM - neste caso Vagos, que fora conquistada pelo CDS em 1976.

    É no quadro desses mesmos acordos que o CDS consegue "sacar" ao PSD a proeminência em Lisboa e aparece essa "figura impar" que deu pelo nome de Nuno Abecassis...

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