24 outubro 2008

THE SECOND WORLD de PARAG KHANNA

Além do impacto do seu conteúdo, parece que o livro O CHOQUE DE CIVILIZAÇÕES E A MUDANÇA NA ORDEM MUNDIAL de Samuel P. Huntington (1996), parece ter estabelecido um certo padrão de livro, que depois vários autores tentaram copiar. É que o livro de Huntington, para além da teoria nela contida, que fora formulada pelo autor previamente num artigo que publicara em 1993 na revista Foreign Affairs, complementa-a, para os menos dados a abstracções, com uma volta ao mundo, explicando a partir de situações concretas o que entendia por aquele conceito de choque de civilizações.
Só que o tempo daqueles grandes eruditos, de uma erudição multidisciplinar (se alguma vez existiu...) é que parece ser uma coisa do passado e é assim que, à vista desarmada, me parece ter sido provável, quer pelas variações de abordagem, quer pelas de estilo, que Samuel Huntington tenha contado com a colaboração de um ou mais adjuntos para as fastidiosíssimas investigações e também talvez para algumas passagens escritas sobre todos aqueles aspectos mais pormenorizados referentes a cada uma das civilizações e a cada um dos países que foram objecto de descrições mais detalhadas para sustentarem a sua teoria.
O livro THE SECOND WORLD, aparecido este ano, da autoria de Parag Khanna, e do qual não conheço até agora tradução para português europeu, é um livro que segue um percurso semelhante ao anterior, tendo sido extremamente publicitado (foi considerado pelo New York Times como a ideia do ano…) mas que acaba, na essência e na opinião do autor, por tentar levar um pouco mais além, a configuração da ordem mundial futura, embora ainda enquadrada pelas regras anteriormente definidas por Huntington. Segundo Khanna, os três Impérios (a expressão é dele) que virão a ser os dirigentes do Mundo multipolar do futuro serão a China, os Estados Unidos e a Europa.
Não está a afirmar nada de particularmente novo em relação a muitas análises que se lêem por aí, a não ser por causa da ausência da Índia do elenco acima. Costuma-se dar relevo na resposta que se dá à pergunta óbvia (porque não a Índia?) ao facto de Parag Khanna ser de origem indiana, onde nasceu há 31 anos. Quanto ao primeiro aspecto, confesso não ver a relação e quanto ao da idade, apenas me dá a certeza que ele ainda não teve tempo para adquirir aquele tipo de sabedoria multidisciplinar que se adicionou ao livro, copiando o formato que fora usado para o CHOQUE DE CIVILIZAÇÕES de Huntington. Neste último caso ficara a suspeita, no THE SECOND WORLD fica-me a certeza que os desenvolvimentos do livro, resultam de um trabalho de assemblagem de diversos colaboradores.
E alguns desses colaboradores revelam-se não ser de grande categoria… O encarregado da História da Turquia, por exemplo, conseguiu associar a Batalha de Manzikert (1071) com Tamerlão (1336-1405), o da História dos Balcãs fez da antiga Jugoslávia membro do extinto Pacto de Varsóvia, além de nos querer fazer acreditar que, na década de 1980, mesmo nas suas repúblicas mais pobres (como a da Bósnia e a da Macedónia) se gozava de um padrão de vida superior ao espanhol… Há erros factuais como estes e há sobretudo erros de percepção, em que se nota que falta ao redactor o lastro que lhe permita integrar os conhecimentos sobre o tema sobre o qual escreve...

A promoção, tanto da obra como do autor, é excelente (comprei o livro, não foi?) e o livro está muito bem apresentado. Eu acredito em jovens de elevado potencial, preciso é de os encontrar, não basta que o New York Times me diga que o são...

3 comentários:

  1. Não conheço as obras em questão, mas pelo conteúdo do poste, creio que não me vou interessar.
    Comento apenas para dizer que achei deliciosa aquela passagem: "não conheço até agora tradução para português europeu".
    Gostei (com "o" aberto)!!
    Bom fim de semana

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  2. Olhe que o livro de Samuel P. Huntigton pode não fazer o seu género mas é muito interessante. Também é chique referir-se-lhe em conversa social.

    Agora quanto ao resto "di qui o JRD góstou", é engraçado lembrarmo-nos como, a respeito do Acordo Ortográfico se evocava a possibilidade de expansão das editoras portuguesas ao mercado livreiro ao Brasil por causa dele...

    É que uma coisa é a uniformização ortográfica, outra coisa são as diferenças semânticas, que são fundamentais em toda a literatura técnica. Eu nunca posso ler um livro com palavras como "gerenciamento", "hormónio" ou "aeromoça" e sentir-me a ler na minha língua materna...

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  3. Não obstante o que escrevi em tempos.

    http://bonstemposhein-jrd.blogspot.com/2008/04/da-lngua.html

    Estou de acordo com o que diz e quero assegurar-lhe que jamais "façarei" ;) a "besteira" de contribuir para deturpação da língua. Deve haver limites e bom senso.

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